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Mil perdões

 

 

 

“Mil perdões” (Chico Buarque), com Gal Costa

 

 

 

Se é tarde…

 

 

 

“Se é tarde me perdoa” (Carlos Lyra / Ronaldo Bôscoli), com Gal Costa

 

 

 

 

De contemplações

 

             Selma Barcellos

 Selma (perfil)

 

Sempre achei que a partir da análise de parábolas iniciais é possível saber se o sistema será estocástico ou não. E que o Conjunto de Cantor, abstração em que na sua forma ideal o terço do meio de uma linha no valor entre 0 e 1 é removido ao infinito, deixando para trás uma população de pontos de corte não concentrados em valor especial, é a solução.

De forma que aplausos tardios para o merecidamente contemplado Artur Avila, aquele moço formidável da Matemática. Cá de minha parte, permaneço em total contemplação com a entidade, inatingível desde os bancos escolares. 

Jamais gostei de matemática, gente. Era pura e aplicada, isso eu era. Nunca entreguei prova só assinada, como fazia Quintana em sua igual ojeriza à matéria, nem fui reprovada. Mas, balão cativo, sonhava em me evadir daquelas aulas.

Minha paixão sempre foi português. Adorava calcular a raiz etimológica de palavras primas, decifrar frações próprias e ordinárias da alma dos poetas…

Álgebra, sim, me encantava. Tinha letrinhas.

 

 

teco-teco

 

 

O homem que olhava pela janela

 

              Annibal Augusto Gama

Annibal

 

 

 

 

 

 

 

Regularmente, tarde da noite, vou à janela iluminada da minha casa, e vejo o homem que, ao longe, parece também olhar da janela, igualmente iluminada, do seu sobrado. Ele olha para fora, durante algum tempo, e depois se afasta. Também eu, ao cabo de uns dois minutos, me afasto. Passa-se ainda algum tempo, e o homem que, do sobrado, olha pela janela, fecha-a e apaga a luz. Faço o mesmo.

Isto acontece todas as noites, e quase de madrugada.

Considerei bem todos esses fatos, e cheguei à conclusão, medindo a distância, que precisava conhecer o homem que olhava da janela, todas as noites.

Durante o dia, andei pelas ruas, e acabei descobrindo o sobrado, do qual o homem espia pela janela, recolhe-se e, depois, fecha a janela e apaga a luz.

O sobrado tinha um pequeno jardim à frente, uma cerca alta, de ferro e um portão. E a campainha.

Apertei a campainha e, decorridos alguns minutos, alguém apareceu na porta e perguntou:

─ Que é que o senhor deseja?

Respondi-lhe que precisava falar com ele. E vi que era um homem magro, de baixa estatura, já velho.

─ Pois fale daí mesmo ─ ele acrescentou.

Disse-lhe que dali não, precisava que ele me deixasse entrar e então nos entenderíamos.

Com relutância, ele abriu o portão. Entrei, e segui-o até uma sala.

─ Agora, o senhor diga-me o que tem a me dizer, e acabemos com isso.

Expliquei-lhe que o via, todas as noites, e tarde, ele olhando da janela iluminada do seu sobrado e eu, da minha casa o observava.

─ Ah, então, o senhor é que aparece numa janela iluminada, todas as noites?

De fato era eu. Ele olhava da janela do seu sobrado, e eu olhava da janela da minha casa.

─ O senhor mora sozinho? ─ eu quis saber.

─ Moro. E o senhor?

Também eu morava sozinho.

Assim, tudo entendido entre nós ambos, despedi-me e fui embora.

E continuamos os dois a olhar pela janela iluminada, todas as noites.

O que não sei é se é ele que me olha da janela, ou se sou eu que o olho da janela.

 

“Janelas Abertas” (Tom Jobim / Vinicius de Moraes), com Tom e Gal Costa

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