Teodureto

 

        Annibal Augusto Gama

ANNBAL~1 

 

 

 

 

 

Teodureto quebrou um dedo, quando lhe desabou sobre a mão a janela de guilhotina. Saiu urrando de dor, e dançando pela casa. Foi ao médico, que lhe engessou o dedo e ficou dedo duro. Mas não era.

Quando conheceu Sofia, ela lhe perguntou, rindo:

— Teodureto não é nome de remédio?

Os remédios curam ou não curam. Alopatia, homeopatia, benzeções e garrafadas. Tosse? Tome Bromil.

O que não tem remédio, remediado está.

O remédio é amar, mas amar também dói.

Teodureto amou Sofia, mas fie-se em quem só fia.

Droga para perda de memória é fosfato. 

Vestido de fraque, Teodureto foi falar com o pai de Sofia 

— Peço-lhe autorização para namorar Sofia, noivar e casar.

O homem tinha muitos cuidados com a filha e lhe perguntou severamente:

— O senhor o que faz?

— Por enquanto, nada.

— Pois nade em mar crespo, e volte salgado.

Vendo o triste pastor que assim lhe era negada a sua pastora, começou de servir outros sete anos, dizendo, “mais servira se não fora para tão longo o amor tão curta a vida” 

Com o dinheiro que possuía, abriu uma farmácia, botando espetado na porta o marinheiro carregando um grande peixe, da Emulsão de Scott.

Remédio vai, remédio vem, ia fazer injeções nas bundas fofas das madamas, espetando-lhes a agulha e depois soprando.

Enquanto isso, Sofia ria.

Quinze anos depois, Teodureto estava gordo e calvo e, ao luar da noite, roía o queijo da Lua.

Não casou, e envelheceu.

E, ao invés de descobrir um remédio para lembrar, inventou outro, para esquecer.

No esquecimento, todas as Sofias andam de braços dados com as Briolanjas.

As mulheres são como maçãs nas gavetas: secam e murcham.

Lembrai-vos disso, meninas: o amor é para dar-se.

 

Emulsão de Scott

 

 

3 comentários

  1. 22/04/13 at 17:00

    Te contei não, ilustre cavalheiro? Do porre que Teodureto tomou quando lhe teve negada a Sofia? Rhum, meu caro. Creosotado. 
    Mas a maior frustração dele foi o estoque perdido de Gumex. Dura lex. Velhice é uma m… mesmo. 
     

  2. Lúcia Helena Vieira dibo
    22/04/13 at 19:06

    Muito. Muito bom!!!
    Fui remetida à infância. E ao farmacêutico perto de casa.

  3. André
    22/04/13 at 19:34

    Essa crônica foi uma bela viagem. A imagem da propaganda nos traz um ar nostálgico tão grande…
    Abraçaço.

Deixe um comentário

Yay! You have decided to leave a comment. That is fantastic! Please keep in mind that comments are moderated. Thanks for dropping by!