Sic Transit Gloria Mundi

 

          Annibal Augusto Gama

ANNBAL~1

 

 

 

 

 

 

 Suponhamos que alguém pretenda escrever (ou dizer), que a gloria é vã. E alinha as seguintes frases que, substancialmente, significam a mesma coisa:

 

                                    A glória é uma palavra vã.

 

                                    A glória é uma vã palavra.

 

                                    Glória: vã palavra.

 

                                    A Glória é uma vã palavra.

 

                                    A glória nada é.

 

                                    A glória é nada.

 

Destas seis frases, só uma deve ser exata, no seu sentido e estilisticamente, para um bom escritor. E soar mais bem para um leitor sensível.

Qual delas seria?

Isto, os professores não explicam nas suas aulas de língua portuguesa, ou só raros deles explicam. E é uma questão de bom gosto, de sensibilidade.

Vamos tentar fazer a escolha certa e justificá-la.

 Em primeiro lugar, a primeira frase (“A glória é uma palavra vã”) é incomparavelmente inferior à segunda: “A glória é uma vã palavra”.

 Por quê?

 Porque uma palavra vã (da primeira frase) apresenta um encontro vocálico desagradável para um ouvido fino: vra-vã. E a antecipação do adjetivo ao substantivo da segunda frase elimina este encontro vocálico enjoativo.

 Todavia, a terceira frase, para aqueles que se prezam de ser sóbrios de palavras, talvez seja a melhor: Glória: vã palavra. Mais ainda: nela não se achando o artigo definido “a”, generaliza, e abrange toda espécie de glória.

 Na quarta frase (“A Glória é uma vã palavra”), vê-se que se escreveu com maiúscula o substantivo Glória. Ele foi personalizado e pode referir-se não ao substantivo abstrato “glória”, mas a uma moça ou a uma mulher chamada Glória. O que não é o caso, ou é outro caso.

Enquanto isso, a quinta e a sexta frases não são muito expressivas. 

Um escritor vulgar poderia ainda optar por uma frase grosseira: A glória não enche barriga.

Acho que a escolha está feita: a melhor, entre as seis frases é: A glória é uma vã palavra. Ou, sucintamente: Glória: vã palavra.

 Carlos Drummond de Andrade, em seu livrinho póstumo, O Avesso das Coisas, escreve:

 “A glória é o alimento que se dá a quem já não pode saboreá-lo”.

 Não é uma frase muito verdadeira. Porque ele mesmo, em vida e moço, saboreou a glória que merecia.

 Já Valéry dizia, com um dar de ombros, ou com irritação:

 “Je m´en fous de la gloire”.

 Que não traduzo, para não escandalizar.

 

sic-transit-gloria-mundi-

 

 

3 comentários

  1. Adalberto de Oliveira Souza
    03/06/13 at 14:15

    Fabulosa observação sobre a glória.
    Vanitas! Vanitatem # Mastaiótis, Mastaiótis.
    Gloriosa observação
    É tudo tão efêmero.

  2. André
    03/06/13 at 14:59

    O que vem a ser a glória?
    Uma vã e mera palavra
    Que nada quer significar.

  3. 03/06/13 at 18:41

    Glória, palavra vã
    Sem os dois pontos (embora também possa parecer um vocativo para a mulher Glória) e, por que não, com a proximidade de sons.
    Glorioso é ler o mestre. E ponto final.
     
     
     

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