Certas coisas…

 

     Selma Barcellos

Selma 2

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Por que viver vale a pena?” – indaga-se o autor da crônica com que me delicio na rede da varanda, boxers deitados ao lado, labradora empurrando minha mão com o focinho para ganhar cafuné. E responde o jovem cronista: por Mahler, Millôr, Manhattan, Peter Sellers, vinhos do 12ème, mulher “na primeira vez em que entrega sua nudez e seu sorriso” e por aí vai.

Fecho os olhos e penso igualmente em certas coisas que fazem valer a pena… Como o quê? Ora, os poemas do Pessoa, as veredas do Rosa, o esticador de horizontes do Manoel de Barros. Quixote. Quase toda a obra de Fellini, o Mastroianni, a nossa Fernanda, meus cult adolescentes “Um Homem e uma Mulher” e “Breakfast at Tiffany’s” – trilhas sonoras cantadas de cor. Aquela cena do Pacino dançando “Por una cabeza”… Aliás, tangos.

E Paris, “Those Were the Days” em Londres e “Prendi questa mano, Zingara” em Florença – aos 18. Sarah Vaughan, Sinatra, Tom&Vinicius, Tom&Jerry. Chico como encantado ao lado meu e as propostas do Roberto. A bateria da Mangueira. Paul McCartney no Maraca, Anna Netrebko no Waldbühne. “Nessun dorma”. O intermezzo de “Cavalleria rusticana”, a doçura do entreato de “Carmen”… Braços e pernas à perfeição do cisne de Plisetskaya.

Ainda agora, os mistérios de Sintra e pedalar por Cascais, o boardwalk de Santa Monica, ouvindo a percussão dos que sobraram de Woodstock e tomando Erdinger gelada… Bolinho de bacalhau do Seu Antonio. Búzios meio vazia, comendo cavaquinha grelhada no entreposto dos pescadores ao cair da tarde. Bombons trufados da Godiva. Mergulho no mar com a tal sensação térmica de 45º (mas é bom parar por aí). Sol se pondo em Itacoatiara…

A beleza dos dias sob a luz do outono. Aquela noite em que família e amigos, enrolados em mantas, deitamos todos no deck da cabana no Yosemite para observar o céu mais incrível de nossas vidas. As gargalhadas gostosas dos alunos com minhas gracinhas. O último retoque antes de assinar a tela. A expressão feliz do filho vendo sua noiva entrar. O bailado solto com o outro filho e suas dicas de bem viver. Aprender com eles. Chorar de rir. Cansar de dançar.

Não por último, subir ao palco da ABL para receber meu “Oscar” pelo 1º lugar no concurso de redação, 13 mil inscritos… (Nota do Editor: Veja a premiação da Selminha AQUI)

Ah! – e soltar o gogó em “Non, je ne regrette rien”. Glorioso. Meu épico de chuveiro.

 

 

8 comentários

  1. André
    05/06/13 at 11:28

    Selma, eu também vou tentar responder a essa pergunta: viver vale a pena porque podemos desfrutar das coisas o máximo possível, ler bons livros, ouvir boas músicas, assistir a bons filmes, tomar cerveja gelada na compania dos amigos, as quatro estações, cada uma com seu encantamento… você merece ter recebido um prêmio como esse. Quisera eu ter assistido presencialmente.
    Beijoca!

    • 05/06/13 at 21:24

      André, foi inesquecível aquele dia da premiação. Minhas palavras de agradecimento levantaram o auditório repleto e, como se não bastasse, o poeta Ivan Junqueira aplaudia calorosamente…

  2. Brenno
    05/06/13 at 13:35

    BECAUSE
        
    Por que se gosta, de graça,
    de poesia ou de cachaça?
    Por que não se esquece as musas?
    Por que se repete a música?
        
    Por que se contempla, à toa,
    um passarinho que voa?
    Por que se dedilha, à tarde,
    o violão, sem alarde?
      
    Por que se sonha, acordado,
    com sandices do passado?
    e então se dorme gostoso…
       
    Por que se espera, ansioso,
    o próximo carnaval?
    – Porque se vive, afinal!

  3. Antonio Carlos A. Gama
    05/06/13 at 18:39

     

     

    São tantas as referências musicais da Selma, que a vontade era postar todas.
     
    Meus momentos mágicos da vida também são sempre marcados por uma canção, a primeira vez em que ouvi “O bêbado e a equilibrista” cantada por Elis, a primeira viagem para a Europa, meu pai e eu, percorrendo de carro mais de sete mil quilômetros, parando onde dava na telha; algumas noites de lua cheia, e outras noites de sol; o pôr do sol visto do Arpoador; chegar ao Rio, quando o avião faz aquela curva rente à ponte Rio/Niterói, o primeiro “Babu” que Manuela me disse (a gente nunca se esquece)…

     

    “Non, je ne regrette rien”, je peux aussi dire (se é assim que se diz), mas daria tudo pra ouvir o épico do chuveiro (pardon, Mme Piaf…).

    • 05/06/13 at 21:32

      Vai daí, Antonio, sem dó:
       
      Car ma vie, car mes joies, 
      Aujourd’huiiiiiii, ça commence avec toiiiiiiiiiii…
       
      Belos momentos, poeta!
       
      Beijocas!

  4. Sophie
    07/06/13 at 20:37

     
    Meu Deus…Selma e Antonio…oxalá eu pudesse ouvir as músicas e ler os textos, mas, vivo momento crucial de estudos e trabalho e passei aqui voando. Ouvi Edith que amo e um pedacinho do Ivan e do Andrea. E um pedacinho da Rita. Morri de amores pela Selma aqui…amei a foto…amei os valeres a pena…..tudo tão coincidente com os meus valeres a pena, exceto dançar…o Pacino…só por aquena cena já teria valido a pena…só por vocês dois, Selma e Antonio, terá valido a pena…Besos…

  5. 08/06/13 at 20:11

    Obrigada, Soph! Orbite sempre!

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