Rio – Lisboa

 

         Selma Barcell0s

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Entre troca de fraldas e colo ao netinho, tempo para ler os mestres e me exibir em minha língua-vó.

Ora bem, penso que estou óptima. Capricho na entonação e pontuo as frases com um charmoso ‘não é?’, digo ‘mais pequeno’ e ‘muita fácil’ sem medo de perder o diploma, já não pergunto onde é o banheiro, a menos que procure o salva-vidas, tampouco se vendem broches; entendo quando se referem às aldrabices dos corruptos; escapo de convites com ‘tenho uma catrefada de coisas a fazer’; aqui e ali salpico um algures, primo bonito do alhures, e lá vou eu.

Não mais arregalo os olhos quando me oferecem um creme para a cara e já ouço com alguma naturalidade as expressões equivalentes a bunda, injeção e – céus! – criança. Gosto imenso de uma famosa propaganda de fraldas que diz “rabinho seco, rabinho são”. Muita boa, não é?

Aprendi que k é capa e que se algo está OK, está ocapa. Lindo pedir uma água lisa, um lume, dizer que determinado tempero sabe a mar, ouvi-los perguntar ‘estou a magoar?’. Tudo bem que uma certa tristeza – nostalgiazinha básica – está na essência dos sentires e cantares portugueses, assim como do indefectível adeus ao se despedirem. Não dizem tchau, até logo, até já. Contam-me que as cangalhas, os carros funerários, além de vários bancos para a família acompanhar o caixão, têm (tinham?) as laterais de acrílico para todo mundo ver. E sofrer junto.

Enfim, ando a fazer progressos. Inclusivamente (sim, aqui se usa) no vocabulário de berço do Cadu: já sei de chuchas, bibrões, traversinas…

No mais, como registrou Saramago, é seguir adiante. A viagem não acaba nunca. Paisagem e língua serão sempre novas.

 

Camões

 

 “Nem às paredes confesso” (Artur Ribeiro / Ferrer Trindade), com António Zambujo

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Q6FnndViPmA[/youtube]

 

 

 

5 comentários

  1. nilton
    04/12/13 at 12:44

    Delicia de proseio

  2. André
    04/12/13 at 17:00

    Selma, eu adorei a interação entre as duas modalidades da “última flor do Lácio, inculta e bela” – brasileira e portuguesa -, pois é ótimo conhecer novas tradições. Você está felicíssima com a chegada de seu neto e espero que esteja aproveitando muito. O vídeo é muito bom, o músico tem um quê de Caetano…
    Beijoca!

  3. 04/12/13 at 19:54

    Antonio, Nilton e André, sempre que venho cá frequento uma academia de ginástica chamada Dramática. Que tal?
    Desta vez resolvi trocar e, no início da semana, fazendo minha inscrição, lá estava: nome e apelido. Dei uma travadinha, já que não tenho apelido. Era o sobrenome. Apelido é alcunha. Não é uma delícia? 

  4. 05/12/13 at 10:41

    Qu`il est bon être au Portugal !
    Apprendre toutes ces expressions de notre langue qui nous laissent bouche-bée ! 
    Je profite pour te souhaiter un séjour très heureux.

  5. brenno
    05/12/13 at 11:26

    Delícia de crônica… portuguesa, com certeza!
    Ternura pura… na ponta da língua!

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