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Meu tempo é hoje

 

 

No esplêndido documentário “Meu tempo é hoje” (a que tornei a assistir ontem) Paulinho da Viola fala bastante sobre o tempo, mas diz não ter saudade, nem viver no passado: “Meu tempo é hoje. Eu não vivo no passado, o passado vive em mim”

E se o passado, tudo aquilo que nos toca e sensibiliza, as coisas boas, que passamos ou de que apenas sabemos, levamos conosco, vivem com a gente, então é presente.

Paulinho, na sua majestosa singeleza, completa setenta anos, e o presente é nosso de ser presente com ele.

 

 

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 P.S. O outro Paulinho, amigo amigo, do poema abaixo, também é assim. Leva consigo o passado e dele faz presente a ele e a nós.

 

 

A voz rouca da crooner

 

 

 

 

 

 

Não sei se chega a ser um fetiche, ou se trata de simples maluquice.

Me apaixono fulminante e perdidamente por todas as mulheres que vejo cantando com razoável talento e algum charme.

Quero me declarar a elas, largar tudo por elas, sumir dali com elas…

Se estiver meio mamado e for num fim de noite, aí então é preciso ter cuidado…

São demais os perigos dessa vida!

Menos mal que passa logo, assim como começou.

E posso continuar a ouvi-las, estrelas, sem receio de perdê-las.

Mas, a uma crooner de voz rouca resistir quem há de?

 

 

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 Áurea Martins, “A voz rouca da crooner”, de Ivor Lancelotti e Márcio Proença

 

 

De mim para você

 

 A “garota Selminha”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(by Wayne Miller)

 

 

Guardo comigo as lembranças do que eu era-a-a-a… Favor, antes de ouvir a música, entrar no clima dos bailes da vida:

Vestido de cetim, decote-canoa de um ombro ao outro, justinho até a cintura marcada por uma faixa de cor diferente com laço e camélia. A saia meio armada respondia pelos efeitos especiais. Escarpins de brilho perolado. Cabelos? Abafa o caso.

Os rapazes (de smoking, se o baile era de formatura, viravam praticamente um Clooney) chegavam pertinho e sussurravam: _ Dança comigo?

Chato só quando eles vinham em nossa direção e tiravam a amiga ao lado. Tóin! Sem falar no “chá de cadeira” quando os astros não eram por nós. Bad days.

A orquestra de metais tocava uma série de sucessos durante 15, 20 minutos, tempo suficiente para rolarem desde antologias como “Selma, que você almeje tudo que deseje!”, até o mantra repetido pelo figuraça que passava o tempo da dança perguntando o que a gente achava disso ou daquilo. E, invariavelmente concordando, mandava com entonação de época: _ Somam dois!

Claro que seu apelido na roda ficou “Somam dois” e claro que morro de saudades dele. Não sei por onde anda, se “cresceu-vos” e multiplicou, se está somando em Brasília…

De qualquer forma, é dele a música “rosa pink” de hoje. Aquela que deixava a pista lotada e a galera ali, somando emoções. Muitas emoções.

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=9r2pEdc1_lI[/youtube]

 

                                                      _ Gosta dessa música?

                                                       _ Somam dois!

 

 

De pai para filho (a)

 

 

Para Bell

 

Aos cinco ou seis anos, o menino passou uma temporada de férias na casa dos avós paternos, na Franca do Imperador.

A cidade ainda era calma, mas ele apenas tinha permissão para ir sozinho até a esquina, a uns vinte metros, sempre pela calçada e jamais, jamais atravessar a rua.

No ponto final da sua grande aventura, bem na esquina, ficava o bar do Seu Tomás, que vendia sorvetes, pastéis, balas, pirulitos, e onde se comprava a garrafinha de guaraná permitida no almoço de domingo.

Era lá no Seu Tomás que o menino sempre ouvia um vozeirão entoando uma música diferente, que bulia com ele, às vezes o deixava alegre e saltitante, outras vezes, com uma tristeza entranha.

Um dia quis saber:

― Seu Tomás, quem tá cantando?

― Oxente, é o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, o maior cantor do Brasil!

E Seu Tomás foi buscar a capa do disco para lhe mostrar, com aquele sujeito vestido de vaqueiro, um sorrisão na cara, empunhando uma sanfona branca. Vaqueiros para ele eram os caubóis de que tanto gostava, mas Seu Tomás lhe explicou que aquela era a roupa dos vaqueiros do sertão do Brasil, coisa bonita de se ver.

Nunca mais se esqueceu daquela figura e daquelas canções. Luiz Gonzaga foi seu primeiro ídolo musical.

Tempos depois, o menino já era um moço, começava a faculdade, queria derrubar a ditadura, odiava os milicos, escrevia uns poeminhas envergonhados, compunha algumas canções com os amigos, tocavam, cantavam, participavam de festivais, queriam mudar o mundo.

Um novo Gonzaga surgiu na vida dele então, e suas canções de protesto, depois as românticas e os sambas o botavam comovido como o diabo. Explode coração!

Era um rapaz magrinho, barbudo, de cara fechada, sempre com um cigarro na mão ou na boca. Ficou conhecido como Gonzaguinha, filho do outro, o Gonzagão, que andava sumido.

Soube então que pai e filho tinham uma relação complicada, distante, com mágoas recíprocas do passado. Até que um dia os dois passaram a se apresentar juntos e a percorrer todo o Brasil, reconciliados, fazendo um sucesso estrondoso.

Gonzagão deve ter partido feliz. Cerca de dois anos após, Gonzaguinha também se foi, num acidente de automóvel.

De repente, tudo aquilo  ― e muito mais ― estava ali, vivificado na tela do cinema em São Paulo, numa tarde de sábado.

O menino, o moço, o pai e avô ao lado da filha do meio, ambos emudecidos e engasgados com o que assistiam.

Quando o filme acabou e as luzes se acenderam, ela não se importou de exibir os olhos vermelhos e ainda lacrimejantes.

Ele colocou os olhos escuros para disfarçar (que bobagem…).

Saíram juntos de mãos dadas para a noite que caía e para a vida que os esperava.

Era bom saber que nunca estiveram distantes, mas estavam cada dia mais próximos.

 

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=63Na62E0LZk[/youtube]

 

 

 

Aviso aos Navegantes

 

 

 

 

            Senhores navegantes, como alguns terão percebido, o acesso ao blog esteve instável no final da tarde.

            Segundo o meu oficial imediato, Saulo Marchiori, o problema foi com o provedor nos EUA, assolado pelo furacão “Sandy”.

            Ao que parece, já estamos navegando novamente em águas calmas (pelo menos por aqui).

            Mesmo assim, mantenham afivelados os coletes salva-vidas.

            Muito obrigado pela atenção dispensada.

 

 

Oh, Sandy!

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=rKfB4cn6tBU[/youtube]