O título, Estrela Binária, tem para mim particular significação. No céu da poesia há muitas estrelas. As que primeiro me encantaram foram as estrelas de Manuel Bandeira, poeta que, ainda na minha adolescência, me descortinou o céu da poesia, com as suas Estrela da Manhã, Estrela da Tarde, depois ampliadas para Estrela da Vida Inteira. Muitas outras estrelas luziram para mim a partir de Bandeira: Drummond, Vinicius, João Cabral, Borges, Fernando Pessoa, Ferreira Gullar, Mário Chamie, José Paulo Paes, Annibal Augusto Gama. Desde então a literatura em geral e a poesia em particular têm sido a minha estrela binária.
Estrela Binária designa duas estrelas muito próximas, gravitacionalmente ligadas entre si e que, a olho desarmado, não são distintas. Mais minudentemente, ensina Ronaldo Mourão que são “duas estrelas muito próximas (mas suficientemente isoladas do conjunto das outras), constituindo um sistema físico em equilíbrio dinâmico estável e no qual a atração gravitacional, interagindo entre si, faz que cada uma descreva em torno de um centro comum de gravidade uma órbita kepleriana”. A sua proximidade, porém, pode ser apenas aparente. “Estrela Dupla” foi a expressão pela primeira vez empregada por Ptolomeu, ao descrever a estrela Arkab.
O título, portanto, além da homenagem ao sempre querido Manuel Bandeira, expressa o binarismo constante da minha vida (tão bem apreendido pela minha filha Bell Gama na página “Sobre o Autor”), que gravita entre as exigências da vida cotidiana e a paixão pela literatura, pela música, pelo teatro e pelas outras artes.
Quem visitar este blog estará em órbita comigo, sem risco de colisão.
Acima
ao lado
ao redor
abaixo
de ti
ela paira.
Aérea
etérea
eterna
lúcida
translúcida.
Nem podes vê-la
escutá-la
tocá-la
estrela.
Luz fugidia
noite e dia
sempre presente
tu a sentes
e pressentes.
E tu de agitas,
teu corpo quente,
teu sangue fervente
e ela volita.
Ela serena
tem pena
se congela
e espera.
Nem tem forma
nem tem cor
odor
ou sexo.
Reflexo
anexo
do que és
te integra
te regra
e desagrega.
É parte
e reparte
de ti
disparate
do que foste
és, não és,
nem paraste
em nenhuma parte.
(Poema extraído do livro “Estrela Binária”, editado pela Funpec)