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Sem essa, Aranha!

 

 

Aranha

 

 

Sem essa, Aranha!

Como bem disse pai Felipão ─ o mago da estratégia chutão pro mato que o jogo é de campeonato ─ você fez a torcida do Grêmio perder a cabeça.

Você queria fazer cera, também bem disseram os advogados e diretores do Grêmio.

Já o árbitro disse que não viu nem ouviu nada!

Até o Rei Pelé disse que você exagerou. Ela aguentava tudo quietinho, como um bom neguinho, que sabia o seu lugar. Quanto mais se fala em racismo, pior é! Nós não somos um povo racista! Tadinha da moça que foi flagrada te xingando! Ela mesma disse que não é racista e te pediu desculpas!

Já melhorou muito. Antes os negros tinham de passar pó de arroz pra jogar nos times dos brancos…

Você ficou indignado só porque te chamaram de “macaco” e “preto fedido”? Doeu? Parou o jogo para reclamar?

Então ontem a valorosa torcida do imortal Grêmio passou a te chamar de “Branca de Neve” e de “viado”. E a te vaiar desde o aquecimento até o final do jogo. Isso é do jogo! Tá reclamando de quê?

O solerte repórter do SporTV, que te viu e perseguiu o tempo todo, quis saber o que havia de diferente na vaia, quando você disse que estava triste com ela.

Esse papo já tá qualquer coisa…

 

 

 

 

Livros

 

 

 

“Livros”, Caetano Veloso

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=AkPozzLSrsM[/youtube]

 

 

Tropeçavas nos astros desastrada 
Quase não tínhamos livros em casa 
E a cidade não tinha livraria 
Mas os livros que em nossa vida entraram 
São como a radiação de um corpo negro 
Apontando pra a expansão do Universo 
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso 
(E, sem dúvida, sobretudo o verso) 
É o que pode lançar mundos no mundo.

Tropeçavas nos astros desastrada 
Sem saber que a ventura e a desventura 
Dessa estrada que vai do nada ao nada 
São livros e o luar contra a cultura.

Os livros são objetos transcendentes 
Mas podemos amá-los do amor táctil 
Que votamos aos maços de cigarro 
Domá-los, cultivá-los em aquários, 
Em estantes, gaiolas, em fogueiras 
Ou lançá-los pra fora das janelas 
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos) 
Ou ­ o que é muito pior ­ por odiarmo-los 
Podemos simplesmente escrever um:

Encher de vãs palavras muitas páginas 
E de mais confusão as prateleiras. 
Tropeçavas nos astros desastrada 
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.

 

 

 

Luzes da Ribalta

 

 

Theatre stage with red curtain

 

“Life’s but a walking shadow; a poor player,

That struts and frets his hour upon the stage,

And then is heard no more: it is a tale

Told by an idiot, full of sound and fury,

Signifying nothing.”

(Willian Shakespeare, MacBeth, Ato V, Cena V)

 

 

 

                                                           A cortina se rasga

                                                           e me põe em cena

                                                           a contragosto

                                                           num palco mofino.

                                                           Enceguecido

                                                           pelas luzes da ribalta

                                                           tateante

                                                           tartamudo

                                                           guiado pelo ponto

                                                           recôndito

                                                           no proscênio

                                                           enceno

                                                           um texto obscuro

                                                           cheio de barulho e fúria

                                                           significando coisa nenhuma.

 

 

 [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=DlxaHMFkA3s[/youtube]

“Luzes da Ribalta” (Charles Chaplin, versão João de Barro (Braguinha) / Antônio Almeida); Texto de Fernando Pessoa; “Drama” (Caetano Veloso), com Maria Bethânia

 

 

 

Tigresa

 

 

“e a tigresa possa mais do que o leão”

 

“Tigresa” (Caetano Veloso), com ele e Ivete Sangalo (Gil na guitarra)

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=f5F-oMR61RQ[/youtube]

 

 

 

Semana Vinicius de Moraes (O que tinha de ser)

 

 

“O que tinha de ser” (Vinicius de Moraes / Tom Jobim), com Caetano Veloso 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Bh9GcAsDPG0[/youtube]

 

Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez criança
Porque já eras minha
Sem eu saber sequer
Porque eu sou o teu homem
E tu, minha mulher.

Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh’alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser.

 

 

Podres poderes

 

 

 

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=2cwR2-h9Dv4[/youtube]

 

 

Podres Poderes (Caetano Veloso)

 

Enquanto os homens exercem

Seus podres poderes

Motos e fuscas avançam

Os sinais vermelhos

E perdem os verdes

Somos uns boçais…

 

Queria querer gritar

Setecentas mil vezes

Como são lindos

Como são lindos os burgueses

E os japoneses

Mas tudo é muito mais…

 

Será que nunca faremos

Senão confirmar

A incompetência

Da América católica

Que sempre precisará

De ridículos tiranos

Será, será, que será?

Que será, que será?

Será que esta

Minha estúpida retórica

Terá que soar

Terá que se ouvir

Por mais zil anos…

 

Enquanto os homens exercem

Seus podres poderes

Índios e padres e bichas

Negros e mulheres

E adolescentes

Fazem o carnaval…

 

Queria querer cantar

Afinado com eles

Silenciar em respeito

Ao seu transe num êxtase

Ser indecente

Mas tudo é muito mau…

 

Ou então cada paisano

E cada capataz

Com sua burrice fará

Jorrar sangue demais

Nos pantanais, nas cidades

Caatingas e nos gerais

Será que apenas

Os hermetismos pascoais

E os tons, os mil tons

Seus sons e seus dons geniais

Nos salvam, nos salvarão

Dessas trevas e nada mais…

 

Enquanto os homens exercem

Seus podres poderes

Morrer e matar de fome

De raiva e de sede

São tantas vezes

Gestos naturais…

 

Eu quero aproximar

O meu cantar vagabundo

Daqueles que velam

Pela alegria do mundo

Indo e mais fundo

Tins e bens e tais…

 

Será que nunca faremos

Senão confirmar

Na incompetência

Da América católica

Que sempre precisará

De ridículos tiranos

Será, será, que será?

Que será, que será?

Será que essa

Minha estúpida retórica

Terá que soar

Terá que se ouvir

Por mais zil anos…

 

Ou então cada paisano

E cada capataz

Com sua burrice fará

Jorrar sangue demais

Nos pantanais, nas cidades

Caatingas e nos gerais…

 

Será que apenas

Os hermetismos pascoais

E os tons, os mil tons

Seus sons e seus dons geniais

Nos salvam, nos salvarão

Dessas trevas e nada mais…

 

Enquanto os homens

Exercem seus podres poderes

Morrer e matar de fome

De raiva e de sede

São tantas vezes

Gestos naturais

Eu quero aproximar

O meu cantar vagabundo

Daqueles que velam

Pela alegria do mundo…

 

Indo mais fundo

Tins e bens e tais!

Indo mais fundo

Tins e bens e tais!

Indo mais fundo

Tins e bens e tais!