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Deslimite

 

 

Deslimite (Selma)

 

                                                           Deste cais

                                                           De revoos

                                                           E migração dos sonhos,

                                                           Sob sol e azul

                                                           Em deslimite,

                                                           O poema, em vertigens,

                                                           Insiste.

 

Selma Barcellos

Selma (perfil)

 

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=86_SUeOWXmI

“Vieste” (Ivan Lins / Vitor Martins), com Lenine

 

 

 

Quiçá

 

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                                                   QUIÇÁ

 

                                   Para explicá-la

                                   seria preciso desenhar nuvens

                                   que nunca são as mesmas

                                   e se tornam outras

                                   adiante do traçado.

 

                                   Para concebê-la

                                   seria preciso compreender o acaso,

                                   intangível como todos os ocasos.

 

                                   Resta segui-la

                                   no seu rastro pela estrada

                                   estrela, grão de areia, poeira, nada.

 

 

[youtube]http://youtu.be/El4xfrN02Rc[/youtube]

 

 

 

Lira dos Setentanos

 

 

Chico 70 anos 

 

Da nossa enviada especial a Paris:

“O que você preparou para Chiquito? Ele está aqui dando mole e a família chega do Rio hoje. Todos vieram comemorar os setentinha.

Selminha”

(Lá no Bloghetto tem mais: clique aqui)

 

 

“Chico Buarque é um dos maiores compositores do Brasil. É meu grande e querido amigo, muito bom de ter. Quieto e respeitador. Profissional extraordinário, estudioso, firme. É um homem lindo, maravilhoso, cavalheiro e deslumbrante. Comigo, é uma flor. Não poderia ser mais suave, amoroso e cuidadoso. Das canções que ele fez para eu cantar, não posso escolher uma. Todas são deslumbrantes. Estarão para sempre entre as melhores da minha vida. Isso já é um presente muito grande. Sou grata. Apaixonada por ele. E sua música alcança nobremente a todos. Com o melhor português, a melhor música, a melhor harmonia. Por isso é hora de parar de dizer que brasileiro tem ouvido burro. O brasileiro é sensível e sabe o que é bom. Chico faz aniversário um dia depois de mim. Sou do dia 18 de  junho e ele, do dia 19. Quando a gente estava fazendo o show de Chico & Bhetânia, no Canecão (no Rio em 1975), era um sucesso! Ficamos meses em cartaz. Estávamos no palco e resolveram fazer uma homenagem. No final do show, para tudo e entram as ‘canequetes’, de tapa sexo, cada uma com uma TV imensa e oferece para a gente. Chico me olhou e disse: ‘Nunca mais faço aniversário!’ Que vergonha que a gente passou! Mas ele é geminiano, adora fazer aniversário. Este ano ele não está aqui para eu dar um beijo nele. Mando de longe! Chico é tudo. É o máximo” (Maria Bethânia)

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=eCQi7KLxGOI[/youtube]

 

“Antonio, quando ela abre os braços para o Chico, a emoção é absolutamente visível. E a gratidão por cantar tamanha beleza com ele. ” (Selminha)

 

 

“Nossa parceria é fora do comum. Temos apenas duas músicas fora de projetos específicos, ‘Moto-Contínuo” e ‘Nego Maluco’. As outras 40 que fizemos jutos ‘têm patrão’: fizemos músicas para balés e musicais. O balé do Teatro Guaíra, de Curitiba, havia encenado ‘Jogos de Dança’, seis peças instrumentais que fiz. Eles me chamaram para fazer ‘O Grande Circo Místico’ e sugeri o Chico para fazer as letras, pela qualidade dele e porque ele tinha prática de teatro, a carreira dele foi por este caminho. Eu sempre interferi muito nas letras dos meus parceiros, pedindo para trocar uma palavra. Nunca fiz isso com o Chico na vida. Nenhuma letra eu tive que pedir algo, porque ele é completamente obcecado, escreve e reescreve. Crio a expectativa e normalmente vem uma letra melhor do que a que estou esperando. Além de ser um excelente compositor, ele consegue inventar um personagem, caso da ‘Lily Braun’ e da ‘Beatriz’ no ‘Circo Místico’. Nosso encontro foi bom para nós dois. Eu sou um melhor músico por conta do trabalho que fez comigo. Chico consegue adivinhar o que a música quer passar e, muito provavelmente, nem o autor da melodia pensou daquele jeito.” (Edu Lobo)

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=D207r2Te9U8[/youtube]

 

 

“Conheci o Chico na década de 1960 em festas na casa de amigos, em São Paulo. Carregávamos a indiferença pelos compromissos e as improvisações da juventude. O Chico ainda não era o Chico, era o ‘Carioca’, que começava a surgir com seu acanhamento e seu violão. Não pude deixar de atender ao chamado dele, em 1969, quando ficou exilado na Itália, me convidando para trabalhar com ele em shows. Chegando a Roma, não tinha show nenhum, e ainda dei dinheiro para o Chico saldar umas dívidas. Permaneci seis meses com ele na Itália, vivendo juntos momentos nem sempre animadores. Dois dias antes de voltar ao Brasil, deixei com ele um tema de despedida para que ele colocasse letra, consolidando o tempo que passamos juntos. Havia ser iniciado, em Fiumicino, pela última estrofe, o que, dois anos depois, seria concretizado como ‘Samba de Orly’, já com a sutil intervenção de Vinicius de Moraes. Porque Orly era o aeroporto no qual desembarcava a maioria dos brasileiros perseguidos pelo regime militar. Já éramos parceiros desde ‘Lua Cheia’, minha primeira composição. Depois fizemos ‘Samba pra Vinicius’. Recentemente, deixei com ele um tema, quem sabe não seja o prenúncio de uma nova canção. Mas nossa mais autêntica parceria é a amizade e a confiança que depositamos um no outro.” (Toquinho)

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=og0ecRWInQw[/youtube]

 

 

“O Chico é o mais completo letrista e poeta brasileiro. Se bem que chegando próximo dele vêm mais uns 8 ou 9. O que, no meu entender, prova que fazemos a melhor e mais rica literatura musical do planeta. E, além do letrista, é também um grande melodista. E conseguiu aliar em suas obras, lirismo, política, cultura popular e filosofia, dentro de uma poética surpreendente, rica, belíssima. Serviu de inspiração para tantos letristas novos, mantendo-se assim a tradição de qualidade de letras escritas no Brasil. ‘Renata Maria’, antes de lhe chegar às mãos, tinha o título provisório de ‘Buarquiana 1’. E lhe chegou às mãos através da cantora Leila Pinheiro, que foi a primeira a gravar. Chico me ligou um dia para dizer que iria colocar um nome de mulher, pois, na minha fita, havia um momentos em que ele achou que eu, no meu lararaiá, havia falado algo com sonoridade parecida. Também fizemos ‘Sou eu’, que era ‘Buarquiana 2’, e Diogo Nogueira gravou primeiro, com o Chico. Ele é metódico e meticuloso. E não corre contra o tempo, creio. Já tenho outras duas músicas guardadas para ele colocar letra. Mas não gosto de sair pedindo. Não sou ‘entrão’. Sou tímido com meus ídolos. E Chico é um deles. Nem sei como tive coragem de perguntar se eu podia mandar um samba pra ele.” (Ivan Lins)

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=wyVrBGuBCgI[/youtube]

 

 

A única unanimidade nacional.” (Millôr Fernandes)

 

“A coisa mais importante em matéria de música popular.”(Rubem Braga)

 

“Herói nacional, salvação do Brasil, mestre da língua. Tanta coisa que nem cabe aqui.” (Tom Jobim)

 

“De amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando (…) Viva a música, viva o sopro de amor que a música e banda vêm trazendo…” (Carlos Drummond de Andrade, depois de ouvir “A Banda”)

 

Talvez mestre Millôr tenha exagerado.

Chico não é (ou já não é) uma unanimidade.

Mas continua uma sumidade:

soma idade, mas a idade some dele.

Que assim seja, benfazeja!

 

 

 

Da arte de suportar o próximo

 

           Annibal Augusto Gama

Annibal

 

 

 

 

 

 

Você suporta o próximo e ainda tem de suportar o longínquo, porque de vez em quando vem a notícia nos jornais, ou na televisão, de que na Índia, ou na África, estão morrendo de fome milhares de crianças. O distante não é difícil de suportar, ainda que você tenha pena dele e remorso. O duro mesmo é suportar o próximo. Daí a arte de suportar o próximo, que lhe vou ensinar.

O próximo mais próximo está dentro da sua casa, se é que você tem casa. Se você mora debaixo de um viaduto ou dentro de um tonel, há sempre um próximo no mesmo viaduto ou dentro de outro tonel. Mas vocês então são mendigos, e o jeito é ir levando, já que não levam nada, mas catam nas latas de lixo.

O próximo mais próximo de você é sua mulher, que até dorme na sua cama. Ou não dorme e exige de você o que você não tem vontade, porque trabalhou o dia inteiro e está cansado. De qualquer maneira, é preciso satisfazê-la, para depois você conseguir dormir. Satisfaça-a.

Mas você também terá na sua casa os filhos e as filhas. Eles e elas estão sempre exigindo. E você tem de arcar com as despesas deles, com o colégio, com o carro que eles esbarrondam a cada ano, com o dentista, com o médico, com a roupa, com a alimentação sobre a mesa, com o televisor ligado alto, com o estrondo do som em seus quartos, com as suas brigas e palavrões. E vem também a sua sogra, e você terá de a cumprimentar, dizendo-lhe: “Como está, Dona Emerenciana?” E ela lhe faz cara de raiva, indo ainda dizer à sua mulher: “O seu marido é um traste, não sei como você foi casar com ele”. O seu sogro é que é tolerável, embora lhe dê algumas facadas de vez em quando.

Se você é velho, terá os netos e os bisnetos, e é a mesma coisa. Vá aguentando, e servindo-os. A sua vingança é que, mais tarde, eles terão também os seus próximos.

O mais próximo de você mesmo, agarrado em você mesmo noite e dia, é você mesmo, e você tem de se suportar, o que não é nada fácil. Há até dias em que você terá vontade de se enforcar.

Há ainda os cachorros, o papagaio, os bichos domésticos que você suporta.

Suporta ainda o chefe da sua repartição, que lhe passa descomposturas, suporta o Delegado de Polícia, o Juiz de Direito, e o duro, duro mesmo de suportar é o Luiz Inácio, o Sarney e outros como eles.

Também há que suportar as filas nos Bancos, as filas de ônibus, a espera nos aeroportos, as buzinadas dos carros nas ruas, o vizinho que bate prego na parede às duas horas da madrugada.

Com o tempo, você aprende a suportar os desaforos, as doenças e a canalhice geral. Suportará o Brasil, os Estados Unidos da América do Norte, a China e o Afeganistão, e até o tango argentino.

Ame o próximo, ainda que ele feda.

Suporte a coceira, o calo que dói, as caspas, o dente que dói (se é que você ainda tem dentes)

Suporte, suporte, porque a vida é suportar. E ainda por cima, você vai para o inferno e tem de suportar o Diabo que o carregue.

 

“Conversa de Botequim” (Noel Rosa / Vadico), com Ivan Lins

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=JHfPMBhoduw&hd=1[/youtube]

 

 

 

Procura-se

 

 

                                       PROCURA-SE

                                       uma nuance

                                       um relance

                                       uma chance

                                       um lance

                                       um romance

                                       (não necessariamente nessa ordem)

 

Nascimento de Vênus Botticelli

 

“Minha” (Francis Hime / Ruy Guerra), com Ivan Lins                                                                                              

 

 

Anjo de mim

 

 

 

“Anjo de mim” (Ivan Lins / Vitor Martins), com Ivan

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=qqhLEiz6nrY[/youtube]

 

O meu amor
Vida pulsar
Dentro de mim

Meu quero mais
Meu querer bem
Meu querubim

Anjo de mim
Me faz amor
Abraçadinho

Meu coração
Começo e fim
Meu pôr-de-mim

O meu amor
É meu luar
Em noite Jobim

É tanto céu
Dedo de Deus
Em meu caminho

Porto de mim
Meu sol, meu ar
Meu tudo enfim

Água é do mar
Como eu sou teu
Cuida de mim

Me leva, me leva

 

 

A luz difusa do abajur lilás…

 

 

“Que será

Da luz difusa do abajur lilás

Se nunca mais vier a iluminar

Outras noites iguais?”

 

“Que será?” (Marino Pinto / Mário Rossi), com Dalva de Oliveira

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=8qtOK57_DCY[/youtube]

 

 

 

“E eu me pergunto agora que será

Da luz difusa do abajur lilás

Se na lembrança não iluminar

O tempo lindo que ficou pra trás?”

 

“Abajur lilás” (Rosa Passos / Ivan Lins / Fernando de Oliveira), com Rosa e Ivan

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=hLkpXnZ3zvE[/youtube]