Posts from outubro, 2008

Tabuame

  

“De tanto levar frechada

do teu olhar

Meu peito até parece sabe o quê

Tálbua de tiro ao Álvaro

Não tem mais onde furar (não tem mais)”

(Adoniran Barbosa, “Tiro ao Álvaro”)

 

“Cada tálbua que caía,

Duia no coração,”

(Adoniran Barbosa, “Saudosa Maloca”)

 

 

As Tábuas da Lei

A tábua sincrônica

A tábua de logaritmos

A tábua de ressonância

A tábua de matéria.

 

A tábua de marés

A tábua corrida

A tábua rasa

A tabuada

As tábuas do caixão.

 

Esta a nossa condição:

levar tábua da vida,

sem tábua de salvação.

 

Sortilégio


 

Como as estrelas,

que ao vê-las

já não são,

a semente e o fruto

 

a paixão e o luto

o dito e o desdito

a prisão e a janela

a nascente e a foz

 

os outros e nós

a calma e a procela

a praga e a prece

 

o quanto acontece

já se findou

e sequer começou.

Antes da porta

 

Diante da porta do inferno,

de Dante ou de Iavé,

é vã toda a esperança,

tua carne perversa

será tragada de chofre

pela maré perene

de escaldante enxofre.

 

À porta do paraíso,

de Milton ou de Pedro,

é tudo liso e ancho,

sem nenhum segredo,

tuas asas de anjo

se abrirão em flores

na eterna primavera.

 

Mas, enquanto não fores,

a porfia do dia

te lança exorbitante

por mares nunca dantes,

e o barco escasso traça,

ao sabor do vento,

tua instável geografia.