A aventura da leitura

 

                        Aparentemente, a leitura é uma atividade solitária, que exige recolhimento e reflexão.

                        Na realidade, porém, quem lê nunca está só, mas em permanente convivência com o autor, com os outros leitores, com outros livros, lidos e não lidos.

                        A leitura será sempre uma aventura, um fluxo de emoções e sentimentos, de experiências vividas ou imaginadas.

                        Embora haja inúmeros e excelentes livros sobre essa aventura da leitura, três me agradam especialmente: dois deles escritos por Alberto Manguel, “Uma História da Leitura” (que já tornou um clássico), e “No Bosque do Espelho” (que tem o subtítulo de “Ensaios sobre as palavras e o mundo”), ambos editados no Brasil pela Companhia das Letras. Deste último destaco o trecho seguinte, da sua abertura:

“Ao juntar palavras com experiências e experiências com palavras, nós, leitores, esquadrinhamos histórias que ecoam uma experiência ou nos preparam para ela, ou, ainda, nos falam de experiências que jamais serão nossas (como bem sabemos), exceto na página candente. Da mesma forma, o que acreditamos que é um livro se remodela a cada leitura. Ao longo dos anos, minha experiência, meus gostos, meus preconceitos mudaram: à medida que os dias passam, minha memória continua repondo na estante, catalogando, descartando os volumes da minha biblioteca; minhas palavras e meu mundo – exceto por alguns marcos constantes – nunca são os mesmos. A famosa frase de Heráclito sobre o tempo aplica-se igualmente a minha leitura: “Nunca mergulhamos no mesmo livro duas vezes”.O que permanece invariável é o prazer da leitura, de segurar um livro em minhas mãos e experimentar subitamente aquele sentimento peculiar de admiração, reconhecimento, calafrio ou calor que, por nenhum motivo discernível, uma certa seqüencia de palavras evoca.”

                         O terceiro livro, cujo título é “Como falar dos livros que não lemos?”, foi escrito por Pierre Bayard e publicado no Brasil pela Editora Objetiva. Trata-se de uma deliciosa brincadeira (e as brincadeiras, como se sabe, são uma forma de travestir a realidade para apreendê-la), por meio da qual, fingindo fazer pilhéria ou escrever mais um dos abomináveis livros de auto-ajuda, o autor elabora um refinado ensaio sobre a cultura literária, formada tanto pelos livros lidos, quanto pelos não-lidos, mas que de algum modo se conhece e assimila.

Um comentário

  1. bellgama
    20/10/08 at 18:16

    Adorei as dicas de leitura. Acho que elas darão um bom caminho, para nós, leitores ainda não poetas como você. Ainda bem que já tenho os três livros. Chamo atenção também para o primeiro parágrafo do “No Bosque do Espelho” em que Manguel compara a curiosidade literária com aquela que aguçava Macondo. Adorei!

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