Para mim, a literatura não se trata apenas da arte de escrever, mas, sobretudo, da arte de ler. A obra literária somente se completa e se realiza com a leitura. Nem sempre, ou quase nunca, o autor é o melhor intérprete de sua obra. O leitor, não raro, descobre aspectos não percebidos ou pretendidos pelo autor, dando nova vida ao texto. Não quero, com isso, enveredar pela semiologia e seus conceitos, mas apenas ressaltar a significância do leitor ou do ledor, o quê, aliás, nada tem de original e já foi abordado por gente de muito maior envergadura.
Há muitos anos escrevia Sérgio Milliet que “o poeta não se comunica com o leitor, nem ninguém se comunica com ninguém desde que a mensagem ultrapasse os limites restritos das banalidades cotidianas. O poeta é apenas um comutador; ele provoca a passagem da corrente elétrica, mas as lâmpadas que se acendem são de cores e potências diferentes. A luz amarela acesa em mim nada tem a ver com a vermelha do vizinho”.
Assim também os versos sempre lembrados de Fernando Pessoa, segundo os quais, não bastasse o poeta fingir que é dor a dor que na verdade sente, aqueles que lêem os seus versos sentem uma outra dor, que nem eles, nem o poeta têm.
Tinha razão, pois, o escritor André Gide ao dizer: “Antes de explicar o meu livro aos outros, aguardo que os outros o expliquem a mim”.
É isso também o que aguardo de quem acessar este blog.