Para os memoriosos, paulistanos ou não, que gostariam de lembrar uma São Paulo que conheceram, ou só ouviram dizer, dois livros preciosos:
“São Paulo de Meus Amores”, de Afonso Schmidt, publicado em 1954 (ano do quarto centenário), e reeditado em 2003, pela editora Paz e Terra (Coleção São Paulo), com patrocínio do Grupo Santander Banespa. O autor, nascido em 1890, foi jornalista e escritor, com extensa obra, ganhador de diversos prêmios literários, entre eles o de intelectual do ano, em 1963, pela União Brasileira de Escritores. Ajudou a fundar o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo e foi membro da Academia Paulista de Letras. Trabalhou durante longos anos para “O Estado de S. Paulo”, até falecer, no dia 3 de abril de 1964, curiosamente dois dias depois do golpe militar, que por certo reprovaria e o afligiria, já que foi redator de jornais anarquistas e de operários, tendo participado ativamente da fundação do Partido Comunista do Brasil. Mas não espere encontrar, no livro, o militante político ou o jornalista engajado. Trata-se de crônicas breves e melancólicas, que perscrutam à luz da memória afetiva o passado e a história de São Paulo.
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“Postais Paulistas”, de Frederico Branco, há muito tempo esgotado, ganhou uma 2ª edição, em 2002, pela Editora Senac. Também jornalista de longa militância, o autor, nascido em 1927 e falecido em 2001, foi cronista semanal, nos anos de 1970 a 1990, do “Jornal da Tarde”. O livro reúne as crônicas publicadas naquele jornal entre 1973 e 1993. Paulistano da rua Conselheiro Brotero, sempre foi apaixonado por São Paulo, que conhecia e palmilhou como poucos. Anota, com agudeza, o Prof. Elias Thomé Saliba, no prefácio, que “Frederico Branco caminha pela cidade atual juntando os cacos dos tempos passados. Tempos de uma bonomia alegre, nos quais ainda era possível perceber a passagem regular das estações do ano nos plátanos e ipês, de passeis nos velhos camarões (os bondes fechados da Light), de chás na Mappin Stores, lanches na Salada Paulista ou filmes no Odeon ou no Metro. Acompanhando o autor nos seus passeios, vamos nos surpreender pela sinceridade comovente e encantadora dos seus personagens: Zilá, a engolidora de fogo, “seu” Pontes, livreiro antigo que costumava ler os livros que vendia; “seu” Nestor pianista, que animava a Barra Funda com sua música noturna; Remo Carotenuto, barbeiro em domicílio; Neco Perneta, o palpiteiro sapo-falante do Bar e Bilhares Benfica; Marcílio Capeta e sua arte coreográfica de abordar bondes (a esses eu acrescentaria o Robert Taylor da Lapa, cujo velório inolvidável e agitado é relatado na crônica que abre o livro) — enfim, uma humanidade vasta e variada que teimava em sobreviver numa cidade meio híbrida, feita de intimismo provinciano e cosmopolitismo agressivo.” O livro traz ainda algumas lindas ilustrações de Tereza Saraiva.
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