O filme norte-americano Muito Além do Jardim (Being There), baseado no livro O Videota, de Jerzy Kozinsk, tem como protagonista um homem de meia-idade (Chance, interpretado pelo grande Peter Sellers), cuja experiência de vida restringe-se à casa do patrão milionário e recluso, em Washington, DC, onde passava os dias cuidando do jardim e vendo televisão.
Obrigado a deixar o casulo, após a morte do protetor, seu comportamento inusitado e o linguajar simplório (sempre se referindo ao seu ofício de jardineiro e ao que tinha visto na televisão) são tomados como excentricidades e parábolas de um grande gênio, capaz de enfrentar como o próximo Presidente, a ser consagrado nas eleições que se avizinham, a gravíssima crise que a economia do país atravessa.
Numa das melhores cenas, a velha empregada do falecido patrão de Chance, a quem conhecia desde criança e bem sabia tratar-se de um idiota, ao vê-lo pela televisão sendo entrevistado por um famoso jornalista, e ovacionado pelas respostas estúpidas, tidas como plenas de ironia e significados ocultos, comenta amargamente com os familiares, todos eles negros: “A América é mesmo só dos brancos!”.
Trinta anos depois (o filme é de 1979), toma posse o primeiro Presidente negro (e filho de mulçumano) dos Estados Unidos da América do Norte, Barack Hussein Obama, depositário das esperanças de que, como um bom e fiel jardineiro, possa recuperar a terra arrasada da economia nacional.
A arte imita a vida ou a vida imita a arte?