Praia de Copacabana, 1956
Conheci o mar e o Rio de Janeiro aos três ou quatro anos, quando, com meus pais, ficamos hospedados no apartamento da querida Tia Lula (irmã do meu avô materno), em plena Avenida Atlântica, posto 4.
Ainda me lembra perfeitamente que chegamos já de noite, e enquanto os adultos conversavam, fiquei em pé num sofá encostado abaixo do vitrô da sala, olhando para o mar defronte, extasiado com o barulho das ondas e com as espumas brancas que avançavam pela areia.
Na manhã seguinte (creio que era sábado ou domingo) fomos à praia, mas, assustado com o trânsito, a multidão e o barulho, me abriguei no colo da minha mãe para atravessarmos a avenida.
À medida que nos aproximávamos da areia, cruzando a famosa calçada de Copabacana, eu ainda no colo, fui sendo tomado por intensa euforia, até que, não aguentando mais, disse: “Mãe, me põe no chão depressa que as minhas pernas estão alegres”.
Fiquei famoso em família pelo dito gracioso, que meu pai, pilheriando, considera minha primeira metáfora.
Poetinha canhestro, não terei feito outras melhores desde então.
O menino cresceu, e muitos anos depois ele e a mulher levaram a primeira filha, então com onze meses, para conhecer o mar de Santos, onde morava o padrinho dela.
Ao chegar na praia do Gonzaga, com a pequenina no colo, ela começou a agitar freneticamente as perninhas e a inclinar o corpo, para ser posta logo no chão. Uma vez na areia, saiu engatinhando (ainda não andava bem) em incrível disparada na direção do mar, obrigando que o antigo menino, transmudado em pai, corresse para acompanhar e proteger a filha .
A metáfora era a mesma, mas muito melhor.