Posts from fevereiro, 2009

De incensados a incinerados

 

                        Ricardo Noblat, em seu ótimo blog http://oglobo.globo.com/pais/noblat/ , reproduz (por favor, vamos dar um descanso para o verbo “resgatar”) um vaticínio de Karl Marx que da o que pensar:

 

Você diria que o velho Marx tinha razão?

“Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado” (Karl Marx, in Das Kapital, 1867)

 

                        É curioso o que se passa com os autores das chamadas obras “capitais”, que imprimiram novos rumos à humanidade. Num primeiro momento a sua palavra é tida como definitiva e irretocável, a demarcar o próprio fim da história. Com o passar do tempo, se a realidade sempre cambiante não confirma todas as idéias expostas, ou se novos conceitos entram em moda, o autor e a obra são simplesmente varridos para o lixo da história, como se nada representassem ou nenhum crédito merecessem. Em contrapartida,  alguns seguidores viscerais insistem na sua defesa intransigente, sem admitir revisão alguma.

                        Não sei se de fato aconteceu ou se faz parte do folclore acerca de Marx. Contam que no auge de seu prestígio, ao ser apresentado a um namorado ou amigo de uma filha, o rapaz com a impetuosidade e a imprudência da juventude passou a discorrer magistralmente sobre a significação dos escritos de Marx, o qual lhe teria respondido:

                        — Foi isso o que eu disse? Então preciso me ler com urgência!

                        O mesmo acontece com Freud, cujas teorias são veneradas ou apedrejadas sem limites. Também é repetido o episódio de que ao ser lembrado por uma madame sobre a simbologia fálica do charuto (parece que quanto a isso o presidente Bill Clinton teria dado uma interpretação literal), Freud, que era um fumante inveterado, redarguiu:

                        — Minha senhora, às vezes um charuto é apenas um charuto.