“Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor…
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?” (Para viver um grande amor, Vinicius de Moraes)
Poeta, meu poeta camarada (a quem, na minha juventude, tive o raro privilégio de conhecer e ouvi-lo de perto em papos inesquecíveis, bebericando, é claro, um bom whisky — um dia eu conto), sua receita para viver um grande amor é sábia, mas comigo, desanda. Sou inepto na cozinha. Só o que sei é ferver água e, por conseguinte, coar um bom café, forte e amargo (se o pó for de qualidade).
Estaria fadado, pois, a jamais viver um grande amor, não fosse a minha mulher e meu grande amor, Maria Delucena, que além do nome incomum, tem um talento inusitado e intuitivo para a arte culinária.
Não conheço ninguém mais com capacidade tamanha de criar delícias inesperadas, improvisando com o que houver na geladeira e na despensa. Não lhe peçam receitas tradicionais ou sofisticadas, que ela até saberá fazer, mas sem se empolgar. Do que ela gosta mesmo é de criar, inventar, engendrar um prato único.
E o prato é único literalmente. Saboreie, lamba os beiços, porque ele nunca será repetido. Inútil lhe implorar que anote como fez, porque, quando pronto, ela já não se lembrará. Nem tem paciência para isso, se pode criar um outro.
Neste fim de sábado, acabo de me deleitar com uma iguaria dessas, que, com toda a certeza, jamais abocarei novamente. Nem eu, nem ninguém.
Ameacei denunciá-la no meu blog. Ela sorriu e não acreditou.
Eis aqui.
Que nome lindo da Macena: Maria Delucena.
E que vergonha que só fico sabendo disso após tantos e tantos anos de conhecimento dessa pessoa que acho encantadora.
E parabéns a ela com sua criatividade na cozinha.
Faço dessas coisas também, mas mais pelo fato de ter aprendido(?) a cozinhar com quase 50 anos e por força de circunstâncias.
Aliás, só fui virar dona de casa praticamente aqui em Piracicaba onde estou há 10 anos. Nunca fui muito boa nessa tarefa e ainda fico a dever muito. Consigo não ver coisas erradas na casa, por pura distração ou falta de capacidade para ser boa nisso.
Acho que decorre de ter sido “marido” de minha mãe que cuidava de tudo e quando eu ia sair para o trabalho me pedia pra deixar dinheiro do gás, da quitanda, do mercadinho e por aí afora.
Ela a dona da casa com todas as providências decorrentes e eu a mantenedora.
Macena e eu não podemos cozinhar para restaurante (já tive a experiência), pois os pratos nunca serão iguais para constarem do cardápio e o cliente pedir de novo.
Assisti ao casamento de vocês e acompanhei por esses anos todos e sei que ela é maravilhosa nos cuidados com você (o grande amor dela), com as filhas e com a casa. Além dos cuidados com os outros à volta (avó, sogra, sogro, mãe etc) Acho isto muito lindo e sou admiradora dela sempre.
Parabéns aos dois. Sempre repito um dito: Deus faz e o diabo junta. No caso de vocês os Anjos juntaram.
É o amooooooooooooor….que mexe com minha cabeça e me deixa assim…..beijos aos apaixonados e apaixonantes, CAROL
Que saudade da comida da mamãe e de você na mesa!
Ti doro!
beijos
Bell
Tio Antonio Carlos e Tia Macena.
Certa vez o mestre Tom Jobim disse que sentia ciúmes do Chico Buarque pois era um letrista que sabia falar a “tão esquecida” língua portuguesa.
Ressaltava no entanto que eram “ciúmes amorosos” e não “ciúmes rancorosos”.
Pois bem, sinto “ciúmes amorosos” de vocês.
Vocês tem sintonia, são alegres e se admiram.
Um escreve brilhantemente e a outra cozinha divinamente.
Desta forma permita-me dar a ideia de criarmos a “Academia Gastronômica das Letras”.
Saudades de todos.
Guilherme
Meu caro Guilherme,
Que bom que você voltou a dar as caras no blog e a deixar o seu comentário. Sem os leitores, e suas opiniões, o blog perde a razão de ser.
Sua proposta está aceita. Vamos pôr mãos à obra (eu só não posso me responsabilizar pela parte gastronômica, pela razões já explicadas no post, mas participo com prazer da “degustação”).
Um grande abraço.
Dr. Antônio Carlos, devo informá-lo que tem uma missão até o fim de abril (quando estaremos mais uma vez aí): enquanto seu amigo massageia suas costas, pode descobrir como ele faz haddock. Porque no santa Luzia eles vendem o haddock defumado, não sei se precisa tirar sal ou se, só assim, é só cozinhar no leite por 10 minutos e pronto. Aí é só pensar no molho.
Mestre Rockmann,
Como bom soldado, missão dada é missão cumprida.
Talvez tenha que me submeter a alguns sacrifícios (como ir jantar no meu amigo para entrar no assunto).
Mas todo sacrifício será pouco, diante do prazer de tê-los aqui outra vez.
Eu cumpro a missão, e vocês cumprem a promessa de virem.