Quando a ditadura militar que sufocou a minha geração e apassivou as seguintes (até hoje) começa a ser chamada de “ditabranda” por um jornal da responsabilidade (ou, no caso, da irresponsabilidade) da Folha de S. Paulo, lembrei-me de uns versinhos dos meus dezenove ou vinte anos, feitos para ser letra de música, que acabou não saindo.
Naquele época, com um grupo de amigos, costumávamos participar de festivais de MBP, que estavam em voga.
Sede condescendentes com o ardor juvenil e os tropeços do “poeta” ou “letrista” aprendiz (já não tão jovem, mas ainda aprendiz).
CONVOCAÇÃO GERAL
Vamos bater pé
e fazer pirraça,
vamos atirar pedra
e quebrar a vidraça.
Vamos botar fogo no circo
e ficar espiando a fumaça,
vamos desacatar sem medo
o sargento e o seu praça.
Vamos soltar os cachorros
e correr atrás da caça,
vamos xingar a vida
que tem sido tão madraça.
Vamos sair no murro,
pular o muro escuro
e ver do outro lado
o que é que se passa.
Vamos virar o jogo
no peito e na raça,
vamos festejar a vitória
cantando e dançando na praça.
Vamos arregaçar as mangas
e botar a mão na massa,
vamos erguer um monumento
de tijolo e argamassa,
Para que nunca mais se refaça
este momento que traspassa.