Hoje, 1º de abril, é o dia da mentira no Brasil. Em vários outros países ocorre o mesmo, em datas diferentes.
Não se sabem ao certo as razões da instituição de um dia consagrado à mentira. Há diversas versões e explicações para isso, mas a própria multiplicidade indica a incerteza dos reais motivos.
O que se pode deduzir é que se há um dia dedicado à mentira, e nenhum dia especial para a verdade, é porque em todos os demais dias prevalece a verdade, o que é uma mentira.
Nada mais justo, pois, do que homenagear a mentira, sem a qual a vida seria intolerável ou mesmo impossível. Começamos a mentir no primeiro bom dia que damos a cada manhã.
A humanidade convive e sempre conviveu muito bem, sem maiores percalços, com a mentira. A verdade é que costuma criar problemas. Enquanto se acreditou na mentira de que a Terra era o centro do universo e que todos os demais planetas giravam ao redor dela, nada de trágico aconteceu. A Terra continuou sendo esse pequenino grão de areia a orbitar em torno do Sol, e todos seguiram vivendo e morrendo normalmente. Mas quando se meteram a dizer a verdade sobre a astronomia e o sistema solar, as encrencas começaram, cabeças rolaram e fogueiras purificadoras arderam na Santa Inquisição.
A ficção literária, o poeta fingidor e as artes em geral são mentiras ou artifícios, mas são por meio delas, muito mais do que da vã filosofia e dos dogmas religiosos, que o homem põe ordem no caos do mundo e consegue dar sentido à própria existência.
O Professor Francisco Alberto de Moura Duarte, cientista e geneticista de escol, internacionalmente reconhecido, e que tem me dado a honra de acessar este blog, é um homem de opiniões fortes, inteligente e sagaz, com o qual de vez em quando mantenho deliciosas conversações. Um dia desses, para provocá-lo, falei sobre a precariedade ou o caráter provisório do conhecimento científico, ao que ele prontamente me respondeu que a ciência não trabalha com verdades absolutas ou definitivas. Terá ele toda a razão, mas a partir disso podemos inferir que também a mentira ou a inverdade é relativa e pode um dia tornar-se ou ser tida como verdade. Daí se dizer que a mentira é apenas uma verdade que não aconteceu (ainda).
Vitor Hugo comparava a verdade so sol, que não se pode olhar de frente sem cegar. Afirmava ainda que nada é mais forte do que uma verdade cujo tempo chegou.
Enquanto esse tempo não chega, nos fartamos de mentiras.
Postscriptum: Ao publicar este post, verifico que já estamos no dia 2 de abril, portanto o que disse no começo é mentira agora.
Patético talvez o que me lembrei agora em falando de verdades e mentiras.
Há poucos dias, mechendo em meus guardados, achei um correio elegante
daqueles que a gente trocava nas maravilhosas quermesses (que saudade!) daquele interiorzão das Minas Gerais (Poços de Caldas… Guaxupé…). E o versinho ali postado:
“Parece mentira, parece
mas é verdade patente.
A gente nunca se esquece
de quem não se esquece da gente.”
Assinado: aquele que nunca vai te esquecer (lindinho, pois devíamos ter entre 10 e 11 anos).
E, entre as verdades e mentiras da vida que rola, eu não me lembro quem foi que me enviou.
Verdades… mentiras…
A gente começa a morrer quando nasce e esta é uma verdade que fazemos questão de não ficarmos a lembrar ou, pelo menos, não beneficia em nada ficarmos encarando tal verdade.Já li diversas versões sobre o 1 de abril e, considerando que tal data não é de origem comercial pois não promove vendas, então melhor crer que foi instituido o dia da mentira porque a vida encerra grandes verdades que podem se amenizar num diazinho desses, com as brincadeirinhas que são feitas.
Seu blog está a cada dia mais gostoso de ler e acompanhar. Parabéns!
Que legal! Sem as mentiras, provavelmente muitos momentos considerados os mais felizes não teriam acontecido… Olhando por este lado, dá até pra reverenciar a mentira… rsrs Mas, falando em arte, poeta fingidor, não tem como deixar de pensar no Fernando Pessoa:
MEUS POEMAS NASCEM SANGRANDO
“Sentir, sinta quem lê”
Fernando Pessoa
“Como pode descer dos céus um poema
assim mesmo como um raio?
Seria presente dos deuses
ou condenação sumária?
Viver permanentemente atado
aos desejos de outrem…
Não, senhores,
o poema não é um dom divino.
O poema é uma conquista.
Ele é fruto da imaginação
e da destreza do poeta.
O poema também não é o sentir,
antes ele é o sentido.
Mas quem quiser que sinta!
Eu transpiro enquanto escrevo.
Meus poemas nascem sangrando.”…!!!
Uma coisa que não é mentira: meu amor por você!
bjo
Bell
Antonio Carlos, você é óóótimo!
Mas tenho de mandar um beijão pra Bell que é a filha mais gostosa que vi nos últimos tempos.