Eis que afinal, mansamente,
o outono se entranha com seus tons
de marrons, beges, vermelhos breves,
que não são do outono em Paris,
mas daquele em que me fiz.
A primavera longeva da infância,
com sua ânsia de florescer,
sua volúpia multicor e inebriante, estiolou,
e se acomodou no pequeno jardim
num canto esconso de mim.
O verão suarento da juventude,
com seus rompantes sóis,
seus ardores, falsas dores, ruídos rudes,
parecia que nunca se acabava
e a agitação ofegante do dia invadia a noite e a madrugada.
Os dias são tépidos agora
e se encurtam na longa noite
que esfria e prenuncia
o inverno álgido que virá
com sua verdade de pedra:
a primavera que houvera outrora,
outra nunca mais haverá.