Posts from maio, 2009

Zé Rodrix

 

Zé Rodrix

 

                        Sexta-feira, os jornais de fim de noite na televisão deram a notícia que me estragou o dia e o final de semana: Zé Rodrix morreu.

                        Ainda há pouco, no post A casa doente, fiz referência e reverência à sua canção mais conhecida e imorredoura, eternizada pela voz de Elis Regina, Casa no Campo, que ouço agora, cantada por ele, enquanto escrevo, quase sem conseguir conter a emoção.

                        Pensava que ele fosse mais velho e me surpreendi ao saber de sua idade nos necrológicos: apenas 61 anos! Fez tantas coisas, produziu tanto, que parecia já ter vivido muito mais tempo, o que me traz à lembrança os versos de Pessoa:

“Tão jovem! que jovem era!

(Agora que idade tem?)

                        Há cerca de dois ou três anos ele veio a Ribeirão Preto, acompanhando o poeta Mário Chamie, para participarem da Feira do Livro. Como meu pai e eu já há algum tempo nos tornamos bons amigos do mestre Chamie, fui por este apresentado a Zé Rodrix.

                        Passamos uma boa parte daquela noite saboreando a conversa de  Mário Chamie e Zé Rodrix, ambos absolutamente encantadores e extrovertidos, capazes de prender a atenção de qualquer ouvinte ou platéia por horas a fio, emendando um assunto com outro e pontuando com grandes tiradas.

                        Até então conhecia e admirava o talento do artista e publicitário Zé Rodrix, mas ao longo do papo descontraído me vi diante de um homem de vasta cultura, não apenas musical, de inteligência e sensibilidade extraordinárias.

                        Contou-me que havia sido obrigado a alugar um apartamento apenas para acomodar seus livros, que já passavam de trinta mil. Como não parava de comprá-los e também de recebê-los dos autores e das editoras, o apartamento-biblioteca começava a ficar saturado, levando-o a tomar a decisão de doar os exemplares repetidos e aqueles que  não mais lhe interessavam, mantendo apenas os livros essenciais, que ainda pretendia reler ou ao menos consultar.

                        Perguntei-lhe com quantos livros pensava ficar, e ele me respondeu com a maior simplicidade:

                        Ah, pouca coisa! Dez ou doze mil…

                        Cheguei a brincar, dizendo-lhe que esses poucos livros e ainda os seus discos não caberiam na sua casa no campo, pau a pique e sapê, o que lhe arrancou gostosas gargalhadas.

                        Não mais o reencontrei, mas de longe acompanhei  a retomada de sua carreira musical, que ele me disse naquela noite  haver feito porque sentia muita falta de pôr o pé na estrada.

                        De novo reunido com os velhos companheiros, lançou um DVD com os maiores sucessos do trio, Sá, Rodrix & Guarabyra: Outra Vez Na Estrada – Ao Vivo. No começo deste ano, foi lançado o CD Amanhã, resultado do reencontro dos três.

                        Amanhã já não há para ele. Haverá para nós?