Posts from junho, 2009

Passaredo

  

 

Andorinha lá fora está dizendo:

“Passei o dia à toa, à toa!” 

Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!

Passei a vida à toa, à toa…

(Andorinha, Manuel Bandeira)

 

 

                        De manhã, acordo com o passarinho dizendo que bem me viu.

                        Mesmo tendo de sair do aconchego da cama para as peripécias do dia, fico feliz em saber que pelo menos alguém bem me vê.

                        Abro a janela e também o vejo, empoleirado logo ali, no fio.

                        Quando saio para o quintal, com a xícara de café na mão, para bem o ver, ele, benfazejo, deixa o fio e vem para o muro da casa, e logo depois pousa no quintal.

                        É um lindo  passarinho, grande, bem emplumado, de peito amarelo.

                        Sem cerimônia, aproxima-se para abocanhar migalhas, que só ele bem vê,  talvez do pão que mastigo.

                        Pobres avezinhas, que vêm para a cidade expulsas das matas extintas pela fúria do mar de cana que nos sitia. Nem mesmo as pitangas, que vivem a chorar, os usineiros sequiosos lhes deixam, enquanto matam de exaustão os cortadores da cana, que só é doce para eles, os donos da terra.

                        Será que também isso o passarinho bem vê?

                        Na dúvida, digo-lhe eu, bicho homem, tomando emprestada a canção de Chico Buarque e Francis Hime:

                                    bem-te-vi 2        

Bico calado

Toma cuidado

Que o homem vem aí

                                                  O homem vem aí

                                                  O homem vem aí!