Depois do metrô, de dois ônibus e uma boa caminhada, chegou finalmente em casa, na periferia distante, onde o cachorro o esperava na entrada, com o rabo abanando e os chinelos na boca.
Entrou e ouviu da cozinha a voz carinhosa da mulher dizendo para tomar banho depressa, que o jantar logo seria servido. Podia sentir no ar o aroma delicioso da comida.
Subiu as escadas do pequeno sobrado até o quarto, tirou a roupa e no banheiro anexo deixou que a água quente e reconfortante lhe escorresse pelo corpo, admirado com a força da ducha naquele dia.
Ainda gozava as delícias do banho, que resolveu prolongar, quando ouviu um vozerio e o barulho de passos apressados subindo a escada.
Os três tiros desfechados à queima roupa amargaram-lhe a boca, e ao cair levou consigo a cortina do boxe, na qual buscou apoio.
Como no filme de Hitchcock, os seus olhos baços viram o sangue misturando-se com a água e a mescla líquida ser sugada pelo ralo, num ruído rouco.
Só então lhe passou pela cabeça como um flash a lembrança de que morava num apartamento, não era casado e não tinha cachorro, que agora gemia e lhe lambia o rosto, enquanto a luz pouco a pouco se apagava.
Muuuuuuito bom! Amei! Cada vez melhor! beijos
Estranhei assim que ele subiu as escadas, sem dirigir-se à mulher, que estava na cozinha… Essa estória só poderia terminar mal, mesmo. Ignorar a mulher ao chegar em casa seria o mesmo que assinar sua pena de morte! rsrs
Mas, algum dia, já me ocorreram tais dúvidas: será que estou entrando no apartamento certo?, ou em que lugar o meu carro está? (mas coisas assim só acontecem em dias “infernais”, quando nos deixamos abater pela rotina, esquecendo o espírito – confiar no piloto automático é arriscado…)
Enquanto nos mantivermos equilibrados entre a matéria e o espírito tudo irá bem. O perigo existe quando perdemos a harmonia.
Esse sujeito ganhou de mim em desligamento e distração!
Mas até por todo esse desligamento v. podia lhe dar um destino mais ameno, não?