Posts from junho, 2009

Quem vê cara não vê coração (?)

 

 

                        Oscar Wilde, que além de um grande escritor era um frasista extraordinário, contrariando o dito popular do título acima, dizia que “só os tolos não julgam pela aparência”. Logo ele que teve a vida destruída pela audácia de não esconder sua homossexualidade numa Inglaterra vitoriana.

                        Nestes nossos tempos do politicamente correto, em que parecer politicamente correto é mais importante do que o ser de fato, a frase jocosa de Wilde seria fulminada pelos raios furibundos dos patrulheiros de plantão.

                        Em meados do século XIX, na onda da Escola Positivista, pretendeu-se dar foros de cientificidade a uma antropologia criminal baseada nas características anatômicas do individuo, como o formato do crânio e da cabeleira; fisiológicas, como tolerância à dor, ambidestreza; e psicológicas, como gosto por tatuagens, uso de gírias, frieza; para assim estabelecer o padrão do criminoso nato. O vulto mais conhecido dessa corrente ― felizmente varrida para o lixo da história ― é o italiano Cesare Lombroso, autor da célebre obra O homem delinqüente.

                        Muitos dos nossos jovens de hoje, com suas tatuagens e piercings, seu linguajar próprio, seu modo de vestir, estariam enquadrados inapelavelmente no tipo lombrosiano.

                        É óbvio que julgar apenas pela aparência é uma forma de preconceito, que deve ser evitada, como todos os preconceitos devem ser evitados. Todavia, não se pode negar que nosso juízo inicial sobre pessoas e coisas é sempre pela aparência, favorável ou desfavorável, de acordo com nossas idiossincrasias. Como nos sentimos atraídos por uma pessoa com que cruzamos na rua e poderá, ou não, se tornar um grande amor? Como nos aproximamos de alguém que virá a ser, ou não, um bom amigo? Como nos interessamos por uma roupa, um quadro, um livro, um objeto qualquer que vemos pela primeira vez?

                        Trata-se, é claro, de um juízo provisório, ao qual não devemos ficar limitados, tampouco dar o caráter de definitivo ou científico, mas que, de outra parte, muitas vezes se confirma.

                        Digo isso a pensar na aparência absolutamente ridícula de grandes déspotas, que causaram um mal imenso ao seu povo e à humanidade, e me indago como os seus contemporâneos, em especial aqueles que os alçaram ao poder, não vislumbraram isso?

                        Hitler, com seu bigodinho e seu gestual chapliniano, tão bem retratos no filme do próprio Charles Chaplin, O Grande Ditador; Mussolini, com suas caras e bocas patéticas; Stalin, com seu bigodão e postura hierática; o Comandante Fidel, não aquele jovem sonhador e barbudo que desceu de Sierra Maestra, mas o ditador carcomido, com a mesma barba e a mesma farda, que se tornou; o fanfarrão Chaves, com seu bolivarismo de fancaria, que se eterniza no comando supremo do seu país; o nosso Jânio Quadros, também chapliniano, e muitos outros mais.

                        Posso dizer que pelo menos uma vez em que me guiei pela aparência e pela minha intuição não me arrependi e estava certo: a figura de bom moço, os apelos messiânicos e moralistas, o olhar alucinado de Fernando Collor não me enganaram, logo pressenti que estava diante de um farsante ciclotímico, que acabou eleito Presidente da República (sem o meu voto), e deu no que deu.

                        Agora elle é senador por Alagoas e da base aliada do nosso grande líder atual, o Presidente Lula, a quem aniquilou valendo-se de sórdidas imputações no último debate global que antecedeu aquela malfadada eleição presidencial!