Quem vê cara não vê coração (?)

 

 

                        Oscar Wilde, que além de um grande escritor era um frasista extraordinário, contrariando o dito popular do título acima, dizia que “só os tolos não julgam pela aparência”. Logo ele que teve a vida destruída pela audácia de não esconder sua homossexualidade numa Inglaterra vitoriana.

                        Nestes nossos tempos do politicamente correto, em que parecer politicamente correto é mais importante do que o ser de fato, a frase jocosa de Wilde seria fulminada pelos raios furibundos dos patrulheiros de plantão.

                        Em meados do século XIX, na onda da Escola Positivista, pretendeu-se dar foros de cientificidade a uma antropologia criminal baseada nas características anatômicas do individuo, como o formato do crânio e da cabeleira; fisiológicas, como tolerância à dor, ambidestreza; e psicológicas, como gosto por tatuagens, uso de gírias, frieza; para assim estabelecer o padrão do criminoso nato. O vulto mais conhecido dessa corrente ― felizmente varrida para o lixo da história ― é o italiano Cesare Lombroso, autor da célebre obra O homem delinqüente.

                        Muitos dos nossos jovens de hoje, com suas tatuagens e piercings, seu linguajar próprio, seu modo de vestir, estariam enquadrados inapelavelmente no tipo lombrosiano.

                        É óbvio que julgar apenas pela aparência é uma forma de preconceito, que deve ser evitada, como todos os preconceitos devem ser evitados. Todavia, não se pode negar que nosso juízo inicial sobre pessoas e coisas é sempre pela aparência, favorável ou desfavorável, de acordo com nossas idiossincrasias. Como nos sentimos atraídos por uma pessoa com que cruzamos na rua e poderá, ou não, se tornar um grande amor? Como nos aproximamos de alguém que virá a ser, ou não, um bom amigo? Como nos interessamos por uma roupa, um quadro, um livro, um objeto qualquer que vemos pela primeira vez?

                        Trata-se, é claro, de um juízo provisório, ao qual não devemos ficar limitados, tampouco dar o caráter de definitivo ou científico, mas que, de outra parte, muitas vezes se confirma.

                        Digo isso a pensar na aparência absolutamente ridícula de grandes déspotas, que causaram um mal imenso ao seu povo e à humanidade, e me indago como os seus contemporâneos, em especial aqueles que os alçaram ao poder, não vislumbraram isso?

                        Hitler, com seu bigodinho e seu gestual chapliniano, tão bem retratos no filme do próprio Charles Chaplin, O Grande Ditador; Mussolini, com suas caras e bocas patéticas; Stalin, com seu bigodão e postura hierática; o Comandante Fidel, não aquele jovem sonhador e barbudo que desceu de Sierra Maestra, mas o ditador carcomido, com a mesma barba e a mesma farda, que se tornou; o fanfarrão Chaves, com seu bolivarismo de fancaria, que se eterniza no comando supremo do seu país; o nosso Jânio Quadros, também chapliniano, e muitos outros mais.

                        Posso dizer que pelo menos uma vez em que me guiei pela aparência e pela minha intuição não me arrependi e estava certo: a figura de bom moço, os apelos messiânicos e moralistas, o olhar alucinado de Fernando Collor não me enganaram, logo pressenti que estava diante de um farsante ciclotímico, que acabou eleito Presidente da República (sem o meu voto), e deu no que deu.

                        Agora elle é senador por Alagoas e da base aliada do nosso grande líder atual, o Presidente Lula, a quem aniquilou valendo-se de sórdidas imputações no último debate global que antecedeu aquela malfadada eleição presidencial!

 

 

5 comentários

  1. Lilian
    17/06/09 at 19:21

    Se são espertos, não é a toa. Não perdem tempo com detalhes ou divagações sobre a personalidade de alguém: vão direto ao ponto, começando a análise pela aparência, que bem pode nos revelar “algo” sobre quem a ostenta. Está certo que é uma análise primária, que pode ser mudada depois. Mas é um começo, um bom começo. “Todos” desejam aparentar o melhor que podem: comigo acontece o inverso; é uma “brincadeira” que faço desde os tempos de criança, em que eu gostaria de ser invisível. Enquanto todos capricham no visual para causar uma boa impressão, eu tento passar despercebida, quanto mais “invisível”, melhor. O problema é que sou uma “barraqueira” e, algumas vezes, não adianta a impressão de neutralidade que procuro passar; os “barracos” falam, praticamente gritam, mais alto… rsrs
    Mas quanto ao caso dos políticos, não acho difícil, pelo menos tentar, imaginar o que se passa em suas cabeças…
    Pensemos em Bill Clinton (alguém poderia duvidar de que ele faz o que faz? – Nunca.) Obama posa de bom moço, mas com as articulações que fez… já deve estar com um pé garantido no inferno. Não vou me referir aos nossos tupiniquins porque poderia acabar dizendo algum palavrão, coisa que não cabe neste respeitável espaço.
    Quanto ao Collor… basta olhar pra ver. Só não vê quem não quer. E lá está elle novamente, junto com o nosso “Sir Ney”. Parece um enredo de escola de samba essa nossa política; sem pé, nem cabeça.
    Acho que Oscar Wilde tinha razão… pra que perder tempo com outros tipos de considerações se a aparência já pode nos dizer tanto? Quem quiser que prove o contrário, demonstrando que fizemos um mau julgamento! rsrs

    • Antonio Carlos
      18/06/09 at 11:14

      Lilian,
      Tenho muita esperança no Obama, creio que a sua eleição poderá marcar uma nova era para o mundo. Até agora não me decepcionou, embora esteja sendo obrigado a fazer concessões para administrar a massa falida que o Bush (este sim, um maluco e despreparado) lhe deixou. A Política é a arte do possível, da busca da afinidades e da superação de divergências. E além do mais o homem está em grande forma! Você assistiu à impressionante rapidez com que liquidou a mosca que o pertubava durante uma entrevista? Coisa de super-herói…

  2. Alexandra
    18/06/09 at 10:14

    Penso que Deus nos deu a aparência por um motivo… só que como a sociedade desvirtua praticamente tudo, e nós fazemos parte dela, deu no que deu e dará, rs.
    Ao ler o texto me vem a cabeça uma frase da qual minha amada Tia sempre me lembra: “À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”.

    • Antonio Carlos
      18/06/09 at 11:06

      Alexandra, finalmente! Venceu a timidez e postou seu comentário!
      Fico muito contente com isso. Continue participando, que o blog é muito mais dos que o leem do que de quem o escreve.

  3. sonia kahawach
    18/06/09 at 12:56

    Adorei seu comentário sobre aparências. Realmente não acho que a aparência inicial seja infalível. Tenho um exemplo aqui em casa, bem próxima, que é o Bruno – meu neto-filho – hoje com 19 anos. Usa piercings diversos, adora tatoo e tem o peito e costas super desenhados e coloridos e nem por isso é um marginal. Trabalha com afinco, namora firme com uma só garota (nessa idade é complicado) e já pensa até em se casar cedo porque acha que filhos devem nascer com os pais ainda jovens para um melhor acompanhamento. Então fui aprendendo a aceitar certas maneiras de ser que até reprovava e não aceitava. V. citou Lombroso e me lembrei de que ele ainda é bastante citado quando de entrevistas de advogados forenses quando ocorrem crimes malucos e inexplicáveis. Esses profissionais explicam certos gestos e características físicas como indicadores de indivíduos malévolos e com profundas degenerações psiquicas. Nunca estudei a respeito; só li alguma coisa e então não sei se pode ser ou não, mas também não acho que o físico pode definir. Lendo Mentes Perigosas concordo plenamente que gestos e atitudes as vezes até imperceptíveis quando não se está alerta, podem denotar um psicopata social, este sim um grave e perigoso destruidor de tudo a sua volta.
    Com relação aos nossos políticos não sei se é psicopatia ou total falta de vergonha e princípios básicos de vida. Fico imaginando como são com os familiares e como devem ter sido criados os filhos desses marginais qualificados. A falta de decoro no Brasil é histórica e nasceu ou foi trazida quando aqui Cabral chegou. Até o Lula em quem acreditei muito quando era sindicalista e eu acompanhei de perto sua trajetória na ocasião, pois trabalhava na Federação Nacional dos Arquitetos e no Sindicato dos mesmos – até esse homem que demonstrava em palavras e gestos ser humano, me saiu pior que a encomenda! Tenho de concordar que sua aparência nunca foi das melhores (ahahaha).
    Fernando Henrique, logo que chegou do exílio fez uma palestra que tive a oportunidade de ouvir e acreditei que era o HOMEM! Também deu em nada, ou melhor, em muita falcatrua e barbáries. E com uma ótima aparência!
    Meu caro, aparências ou falta de, acho que redundam no mesmo.
    Aliás, até na novela das 9h (Caminho das Índias) dá pra ver bem a questão aparência (vide personagens Inês, a irmã do esquizofrênico Tarso e ele mesmo até entrar em crise e outros tantos).
    O tema me entusiasmou e falei demais. Suas abordagens são cada vez mais interessantes.

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