Para a Bell e o seu De Assalto
Ela estreou na vida um ano e dez meses depois da irmã.
Ela, um sol radiante, e a irmã, uma lua insinuante, formavam uma duplinha fascinante.
Ela audaz e até imprudente, a irmã capaz e sempre previdente.
Quando a irmã entrou na escolinha de balé, que ela ainda não tinha idade para cursar, vestia um colant azul, parecido com o uniforme da escola, e se postava na porta da sala de aula, imitando os passos e posições, até que convenceu a diretora a abrir uma exceção e admiti-la como aluna. Na apresentação de final de ano da escola, ela estreou como bailarina no Teatro Municipal, a menorzinha de todas, representando o número 2, que, aliás, era a sua idade.
Pertencem à história familiar as “coberturas” que ambas, com menos de dez anos, faziam das festas de fim de ano, com a velha e pesada Super 8 do avô paterno. A irmã filmando e narrando em off, ela atuando como repórter, entrevistando e gozando os avós, pais, tios e primos.
As duas foram ótimas alunas até o término do primeiro grau. A irmã continuou a ser depois, passou no primeiro vestibular e foi cursar Direito em São Paulo, formando-se com louvor.
Ela deu muito trabalho na adolescência, vivia a mil, pouco se interessava pelas aulas, limitando-se a tirar as notas mínimas para passar de ano no colegial. Guiava escondido, fumava escondido, namorava escondido. No último ano, pendurada numa recuperação de matemática, foi a São Paulo visitar a irmã, conheceu a FAAP ao assistir a uma peça no teatro de lá, e disse categórica:
— Vou fazer faculdade aqui!
Pouco depois prestou o vestibular, com apenas 17 vagas para o curso de Relações Públicas que pretendia.
Só mesmo para ver como é, não tem a mínima chance, pensavam os pais.
Passou, estreou na faculdade que queria e foi uma das mais brilhantes alunas durante todo o curso.
Já aprovada no vestibular, fez o exame de recuperação no colegial, precisando de 9,0. É muito, não vai dar, pensamos. Tirou 9,5.
Hoje, é uma profissional dedicadíssima e de excepcional talento. Fez pós-graduação. Ampliou seu campo de trabalho, enveredou para o jornalismo e a televisão. Tornou-se roteirista e diretora de comerciais e programas, editora de jornal. Viajou pelo mundo afora.
Por isso, quando me disse, alguns dias depois de ter sofrido um assalto na pracinha próxima de casa, na qual brincava quando criança, que tinha escrito um roteiro para fazer um curta-metragem sobre o episódio e outros tipos de assaltos da vida, não duvidei um instante sequer.
Nesta segunda-feira, dia 22, estreia o seu curta-metragem De Assalto no Cine Clube Cauim (o cinema da sua infância, quando ainda se chamava Cine Bristol), a partir das 19 horas com exibição também do making of e apresentação ao vivo das músicas do filme, além de outras atrações.
Todos estão convidados.
Os amigos, os parceiros da realização, os pais, a irmã mais velha e a irmã mais nova (outra estrelinha que veio depois iluminar o nosso céu) estarão presentes a mais essa estreia dela, e às muitas outras que por certo ainda virão, para aplaudi-la de pé, com o coração na mão.
Não gosto do “cinema brasileiro” exatamente por causa do realismo. Sou hiper sensível, sofro tanto, todo dia, por qualquer coisa (trânsito e tal), que não assistiria a um filme que retratasse esse sofrimento que passo no dia a dia. Também já fui assaltada (faz tempo, mas a sensação é inesquecível, como se ocorresse novamente no momento da lembrança – melhor nem pensar, então).
Por todas as “referências” que o senhor deu, imagino que a sua garotinha seja mesmo um fenômeno! Sei que esse tipo de filme costuma fazer sucesso, mas eu não posso ver; já me basta a realidade que me “assalta” a cada momento.
“Todo dia a vida leva um pouco de você”. Num fórum que discutimos sobre a morte, eu disse, usando mais ou menos esse mesmo raciocínio, que morremos um pouco a cada perda, e assim, estaríamos vivendo a morte e não a vida.
Até posso ver “tragédias”, mas de fatos passados; presentes não. Ontem assisti ao filme “O Leitor”, que me impressionou bastante.
Assista, Bell!!! E parabéns pelo seu filme (que só poderei assistir no futuro, quando já não retratar a dor presente…)
Antonio Carlos, uma emoção ouvir você falando de suas crias!
Seu entusiasmo e admiração por elas todas é passado de forma sentida e a gente só pode ficar feliz e orgulhosa também. O mundo ainda tem coisas boas e, principalmente, gente boa e brilhante! Que bom!
Só muito sucesso pra Bell sempre. A última vez que a vi era ainda uma garotinha e vejo que ficou uma moça linda e realizada. Isso me enternece profundamente. Acho que v. não se lembra ou talvez nem tenha conhecido, mas a Bell – sempre que vejo suas fotos – me lembra muito a filha mais velha do tio Rachid, a Neide, quando era jovem.
Talvez seu pai se lembre, não sei.
Parabéns a você, Macena e a Bell pela realização de agora.
Lamento profundamente não estar mais perto pra ir à apresentação.
Com certeza contará com o público esperado e depois quero ler seus comentários.
Grande beijo no coração de todos.
Antônio-Carlos e Isabella: Dirijo-me a ambos, para comentar e subscrever a última mensagem do primeiro, sob o filme a exibir-se hoje, segunda. De início, subscrevo inteiramente o que ali foi dito, e se mais acrescentasse, não faria com tanto brilho, afeto e emoção. As minhas netas, todas, têm sido a recompensa da minha vida, tão cheia de malogros. A diversidade de talento das três, mas sempre em ponto alto, completa-as. E imagino se minha querida Nãnan aqui estivesse quanto não se regozijaria com o filme que hoje será levado ao público. Aprende-se com a vida, e Isabella tem aprendido, às vezes dolorosamente, o que não lhe tira a alegria de viver. E só lhe recomendo que se poupe um pouco, porque temos muito de esperar dela. Parabéns à minha neta, parabéns ao pai e parabéns a Maria Delucena!
Papilly,
Estou aqui emocionada com as tuas palavras. É muito bonito você ler algo que sempre quis ouvir. Não que não soubesse do amor que sente por mim, mas não há prêmio maior do que ver seus pais orgulhosos de você. Ainda mais publicamente, num espaço tão admirado e importante como o seu blog. Sei que hoje será uma noite linda para todos nós. Sei que ela seria impossível sem vocês. Sei que já os assaltei muito e sei que vocês sempre consentiram em me ajudar. Obrigada por tudo. Você, minha mãe e minhas irmãs são o motivo do meu brilho. beijos enormes, ti doro! Bell
Viva a Bell…todos os dias são dias em que a minha irmã brilha muito. Lindo o texto, principalmente pq está impregnado de muito amor…beijo, Carol
Privilegio.
Esta é a única palavra que me vem em mente quando tento externar tudo o que aconteceu no Cine Clube Caium segunda à noite.
Rever velhos amigos, relembrar historias “das antigas” e brindar o talento e o sucesso desta “gente da arte”.
O curta De Assalto nos faz pensar, refletir e entender a quantidade de vezes que somos “subtraídos por tenebrosas transações” como diria Chico Buarque.
Não imaginava o trabalhão que dá fazer um curta. O making off elucidou e mostrou a todos a vocação da Bell para dirigir.
Só tenho a agradecer o convite, me orgulhar de conviver com vocês e desejar toda a sorte do mundo à Bell, pois ela merece e faz por merecer.
Guilherme
Guilherme,
Privilégio é ter você como amigo e leitor e a sua incentivadora e carinhosa presençá lá.
Um abraço.