Em homenagem, e desforra, a meu inconfidente companheiro
de viagem, que não me acompanhará nesta,
mas sempre estará comigo.
Às vezes ele acreditava em Deus. Às vezes, não.
Dizia ser um livre-pensador, cético ou agnóstico, mas alguma coisa, bem no fundo de si, acreditava ou queria crer.
Livre-pensador é uma redundância, pois que só é possível pensar com liberdade, aceitando ou admitindo aquilo que se harmoniza com a sua razão.
Cético não é o que duvida de tudo, mas antes o que acredita em tudo, ou melhor, numa coisa e no seu contrário também.
Agnóstico é um pernóstico, a que falta a coragem de ser materialista convicto ou acreditar no invisível.
Tudo isso ele também livremente pensava consigo mesmo.
O que de fato o incomodava e não conseguia compreender era o fanatismo religioso, que em vez de religar ou aproximar as pessoas, impinge a intolerância e o ódio entre crentes e incréus.
Lia sem parar, os escolásticos e os filósofos eminentes, mas cada porta que se lhe abria o levava a um vestíbulo com diversas outras portas cerradas.
Uma noite, em que tardou a dormir, depois de muita leitura, achando-se naquele estágio intermédio entre o sono e a vigília, a revelação se fez!
Com clareza e lógica perfeita, os argumentos foram se encadeando em sua mente, até que ficasse demonstrada de forma evidente e incontestável a existência de Deus!
Como ninguém havia pensado nisso antes? Era tudo tão cristalino, tão óbvio, tão exato!
Apaziguado e sentindo uma felicidade plena, finalmente adormeceu, a prometer que tão logo despertasse registraria para a humanidade a sua comprovação definitiva da existência de Deus.
Na manhã seguinte, lembrava-se do que havia acontecido, mas não lhe acudia como desenvolver o raciocínio perfeito. Ao contrário, a cada argumento ou hipótese de que cogitava, inúmeras dúvidas e contradições lhe assaltavam.
Concluiu então que, se existe ou não, Deus resiste.
Parece que estamos em sintonia, Professor. Dias atrás (recentemente), tive um sonho parecido, não com este tema, Deus, mas com alguma coisa que me interessava muito saber. No sonho, encontrei “n” argumentos para comprovar a “teoria” que tinha elaborado. E no próprio sonho, eu pensava, eu sabia que teria que me lembrar de tudo aquilo quando acordasse (talvez já estivesse recuperando a consciência neste momento). Mas o fato é que, acordada, não consegui sequer me lembrar do que tentava provar no sonho, numa sequência lógica perfeita, um raciocínio conduzindo, sucedendo o outro. Sei que deveria ser algo importante, porque no próprio sonho isto ficava bem claro. Daí, a grande frustração por não me lembrar de nada mesmo.
Lilian,
O sonho narrado não foi meu, mas do meu pai. Por isso ele é “roubado”.
Só são minhas as considerações e a conclusão final.
Até a volta.
Um beijo a você e nossa querida Alexandra.
Não sou cética, não sou agnóstica, não chego a ser descrente total. Por vezes acredito piamente na existência de Deus, com convicção e fé. Depois entra o “diabinho” da dúvida e coloca algumas questões que não explico. Daí fico naquela dúvida cruel. Mas… pelo sim ou pelo não, continuo colocando nas mãos de Deus tudo aquilo que não resolvo de imediato e aguardo pelas voltas que trazem a solução. E as “voltas” podem ser Deus, por que não?
Emocionante.
Comentar o óbvio da beleza da narração?
Melhor ficar calada.
Repetindo o velho e bom ditado popular, muito dito por minha mãe:
“Há horas de falar e horas de se calar”
Virgínia