“O Tejo é mais bonito que o rio que passa na minha aldeia,
mas o Tejo não é mais bonito que o rio que passa na minha aldeia
porque o Tejo não é o rio que passa na minha aldeia.”
Não sei se, de memória, citei corretamente os versos do mestre Alberto Caeiro.
Mas o Tejo é lindíssimo e empolgante, ao saber que dele os portugueses se lançaram ao mar oceano (que de tudo sabe e tudo guarda) em busca do seu destino, que acabou sendo também o destino de nós, brasileiros.
Passamos o dia à toa, à toa, como a andorinha de Bandeira, às margens do Tejo, revisitando a Torre de Belém, o Padrão dos Descobrimentos, o Mosteiro dos Jerônimos (restaurado e ainda mais maravilhoso), com o Tejo nos sussurando as suas histórias e segredos.
E o por-do-sol? E o por-do-sol? A coisa mais linda do Tejo! beijo!
Bom dia!
E os fadistas? Pelo amor de Deus, o senhor vai a Portugal sem assistir a um show de fados? (É como “ir a Roma sem ver o Papa”!!! rsrs)
Pergunte, peça alguma indicação ao pessoal do hotel de uma boa casa de shows, de preferência “pequena”, para um grupo seleto, com bons fadistas cantando. O mundo vai ficar imensamente mais bonito e mais romântico pra vocês! Ou só eu gosto de fados?
Eu não perderia uma só noite em Portugal sem fados…
Daquele disco (Verde Vinho) que falei para o senhor, tem uma coletânea dos “melhores fados de todos os tempos” e tem um bem gracioso chamado “Rosinha dos Limões”. Não saia de Portugal sem ouvir “Nem as paredes confesso” e tantos outros. Ouvir “Rosinha dos Limões” seria esperar muito…
Um abraço, com muita saudade! Um dia maravilhoso pra vocês!
Lilian,
Tenho ouvido tantos fados que quase me enfado…
Vou tentar achar o CD do Verde Vinho e lhe darei um de lembrança.
Amanhã vamos passar a noite numa casa de fados, comendo bacalhau,
bebendo vinho e fazendo silêncio, pois que se vão cantar muitos fados.
Depois confessarei a você e às paredes como foi.
Caso o senhor não ouça “Rosinha dos Limões” por aí, achei no YouTube (não é com o Verde Vinho, mas é lindo mesmo assim…)
http://www.youtube.com/watch?v=-a-I38DRmKg
E não se preocupe, MESMO, em trazer o CD pra mim, porque a reprodução que eu tinha era bem antiga, tirada de um disco de vinil…
Então, não perca tempo com isto, porque seria dificílimo, talvez impossível, encontrar.
Também procurei no YT algumas versões de “Nem às paredes confesso”. Não gostei; são todas muito “pesadas” e chorosas, a começar pela rainha fadista Amalia Rodrigues…
E se vocês estão ouvindo fados, até o enfado, então a viagem está perfeita! Viva Portugal!
Meu caro Antônio-Carlos: depois dos últimos blogs, o primeiro sobre a sua chegada a Lisboa, fiquei mais aliviado. Afinal, uma viagem de avião, de mais de doze horas, é sempre preocupante. Todas elas são, não importa o meio de transporte. Até nas diligências, pode o eixo do veículo partir-se, ou surgirem assaltantes na estrada. E todos os albergues são suspeitos. Nas viagens, tentamos pôr-nos fora de nós mesmos, mas a verdade é que estamos dentro, em quaisquer circunstâncias. Então, o perigo somos nós mesmos, e não contesto. Você, porém, sempre soube sair-se airosamente de todos os perigos. Vá olhando o Tejo, que não é o rio da sua aldeia. Os rios da nossa aldeia são o Pardo, o Mogi e o Sapucai. Ou o rio Grande. No Sapucaí, você, menino, caíu nas águas, ao equilibrar-se sobre um tronco de árvore que pendia acima delas. Anos depois, suportaria aquela chuvarada nos ombros, no fordeco do Caetano, de volta de uma pescaria com o Doutor Zequinha. Acho que, chegando em casa, foi a primeira cachaça que o obriguei a tomar. Aí não há cachaça, mas bagaceira. E Você bebe um Dão, comendo bacalhau numa taverna. Não sei o que Maria Delucena está achando da sua terra de origem, que é também a nossa. Terá já descoberto a sua quinta? Se não descobriu, contente-se com a cesta, ou a sexta. A Torre de Belém e os Jerônimos é que são nossos.
Já visitou as livrarias? Não deixe de procurar também os alfarrabistas. E leve sua mulher para estar na Porta do Sol, como estivemos. Mostre-lhe a estátua de Eça, com a mulher nua nos braços. Sob o manto da fantasia, a nudez da verdade…Tenho cada vez mais suposto que a verdade não é nua, nem vive num poço. Ela está sempre envolta em véus, ainda que diáfanos.E dança a dança dos sete véus. Não deixe de continuar escrevendo o seu diário de bordo. Ainda que nada aconteça, porque, quando nada acontece é porque tudo acontece. Estive na sua casa, e vi Julinha.Um abraço do Annibal.
Meu pai,
Você faz muita falta aqui. O Mosteiro dos Jerônimos está maravilhoso, quase
integralmente restaurado. As livrarias portuguêsas não são as mesmas,
só vendem best sellers e edições novas. Tentarei achar os alfarrabis-
tas, mas o tempo anda curto, para tanta coisa que fazer. E Paris ainda
nos espera…
Sua benção.