Post coitum omne animal triste, nisi gallus qui cantat.
Parece um sonho.
Ela ali, deitada ao seu lado, linda e sorridente, olhando fixamente para ele, com ternura e paixão.
O anseio é tanto, que teme quebrar o encanto breve. Mais de uma vez recolhe o gesto esboçado para continuar a contemplá-la, esparramada no lençol de cetim, nua e lânguida.
Até que não mais resiste, estica o braço e toca a carne palpitante e quente, numa carícia trêmula.
O corpo agora é um mar que se crispa e o engolfa numa onda vertiginosa, que cresce, cresce, cresce, até se quebrar espumosa e mansamente despejá-lo na praia úmida.
Ao longe, os sons da casa lentamente ressoam, o ruído dos derradeiros pingos da chuva que caem do telhado na folhagem do quintal, pouco a pouco se distinguindo do relógio que lateja na sala.
O súbito vazio, absoluto e oco como uma lata velha, aberta dos dois lados, transpassada pelo vento.
Por que assim?
Em que baía, em que ilha, o desejo naufragado se acoitou?
De costas para ela, acende o cigarro e se deixa ficar, desterrado e indolente, acompanhando o bailado da fumaça no ar.
Lá fora o galo cantou, para o dia que nascia.