Ladrões de hóstias

 

 

                        Uma dupla de meliantes invadiu de madrugada a igreja São João Batista, no bairro da Gruta, da cidade de Orlândia, e furtou uma mesa de som, hóstias e seis garrafas do vinho utilizado nas missas.

                        Por meio de informações de vizinhos da igreja, a polícia identificou os larápios, que confessaram e disseram que o ato foi uma idiotice. A mesa de som foi recuperada, mas as hóstias e o vinho já haviam sido consumidos (Folha de S. Paulo, Caderno Ribeirão, C3, 25/9/2009).

                        Sobre esse furto, me assaltam algumas dúvidas.

                        Terá sido furto famélico?

                        Como os ladrões se arrependeram, ingeriram as hóstias e o vinho sagrados, com isso teriam comungado e recebido o perdão divino?

                        Em caso positivo, tendo em conta o perdão da vítima, estaria extinta a punibilidade?

                        O caso me remete a outro, anedótico, mas que me disseram ter acontecido de fato em Guaxupé, que na minha memória da infância é um misto da Recife e da Pasárgada de Bandeira, e da Macondo de García Márquez.

                        Um coroinha, acostumado com os hábitos frugais do velho pároco, servia-lhe durante as missas uma pequena porção de vinho no momento solene da consagração, e reservava a sobra para mais tarde, na sacristia, degustar com bolachinhas.

                        Adoentado e com a idade avançada, o vigário recebeu um auxiliar, padre jovem e vigoroso. Na missa, o coroinha quis lhe servir a mesma pequena dose de vinho, mas o celebrante jovial, com gestos enérgicos, insistiu que completasse o cálice.

                        Vendo frustrar-se o costumeiro lanche paroquial, o coroinha, irritado, sacou da algibeira o saquinho de petisco e o lançou ao padre moço:

                        — Se é assim, tome, pode ficar também com as bolachinhas!

 

 

 

2 comentários

  1. Lilian
    27/09/09 at 23:03

    Pasárgada de Bandeira… e de todos nós. Cada um tem a sua, guardado num cantinho do coração. A minha, de infância, chama-se “Engenheiro Schimidt”, um distrito da maravilhosa São José do Rio Preto. A minha Pasárgada de hoje chama-se Águas de São Pedro… Será que chegarei lá? Schimidt não sai do meu coração, pois vivi muito e intensamente naquela pequenina cidade. E São Pedro (Águas…)? São Pedro me espera, estou certa disto. Dizem que os sonhos dependem apenas de nós mesmos pra serem realizados. O que e quanto tempo ainda me separa de São Pedro??? Juro que chego lá…

  2. sonia kahawach
    28/09/09 at 10:13

    Quanto ao roubo, bom gosto dos ladrões… Comeram as hóstias (têm gosto de pão hebreu) e tomaram o vinho (geralmente de ótima qualidade, que os padres não deixam por menos).
    Guaxupé como sua Pasárgada (bem falado pela Lilian), me remete a Poços de Caldas – meu paraiso terrestre.
    Mas comecei a ficar sem esperança de lá voltar e ficar.
    Esperança é a última que morre? Pode ser, mas com o tempo vai se desgastando…

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