Luiz Alfredo Garcia-Roza e eu

 

 

 

 

                    Dizia-se, com alguma razão, que era impossível escrever um bom livro policial ou criar um protagonista de tais histórias que se passassem no Brasil.

                    As histórias policiais, seus protagonistas e personagens exigem um certo clima, um ambiente próprio, uma certa cultura que não existiriam no Brasil.

                    Garcia-Roza desmistificou tais teorias. Desde o seu primeiro romance, O Silêncio da Chuva,  ganhador dos prêmios Nestlé de Literatura (1996) e Jabuti (1997), em que esboçava a figura do Delegado Espinosa (então ainda um investigador), vislumbrava-se que havia conseguido criar um tipo e um ambiente brasileirísssimos para suas tramas policiais.

                    A partir de então tenho acompanhado todos os seus livros do gênero. Depois do primeiro acima referido,  em alguns dos romances seguintes  oscilou um pouco, entre altos e baixos, como se o autor procurasse definir-se e encontrar-se, mas o Delegado Espinosa cada vez foi se tornando mais real e característico.

                    Garcia-Roza foi criado em Copacabana, onde também trabalhou e viveu na fase adulta. Conhece como ninugém a região, seus bares, inferninhos, livrarias, sebos e sua fauna urbana. A decadência experimentada pelo bairro, a violência crescente propiciaram-lhe um cenário perfeito para sua ficcção.

                    Todas as suas referências, o bairro Peixoto, o árabe da galeria Menescal, a Trattoria, a 12 DP onde trabalha Espinosa são rigorosamente exatas e já foram por mim conferidas pessoalmente.

                    Por feliz coincidência, quando venho ao Rio, normalmente em janeiro, há um novo livro dele, que faço sempre questão de ler aqui, in loco.

                    Assim me tornei íntimo do Delegado Espinosa e do seu universo, que em muitos aspectos se assemelham com o meu e a minha visão da vida. Daí a brincadeira que me permiti fazer (e espero não ter frustrado a expectativa daqueles que me leram).

                    Embora todos os livros de Garcia-Roza sejam bons, os dois últimos, Na Multidão (em que Espinosa quase morreu) e Céu de Origamis me parecem ter atingido a maturidade do autor, tanto estilística, quanto de elaboração ficcional.

                    Faço votos que o meu amigo, Delegado Espinosa, continue ainda por muito tempo na ativa a deliciar aqueles que, como eu, se tornarem partícipes das suas aventuras instigantes.

 

 

Um comentário

  1. Lilian
    16/01/10 at 13:26

    Mais um presente do meu amigo que está em férias no Rio: indicação para leitura. Claríssimo que vou ler; aliás já conferi: tem os dois (e mais) na Livraria Saraiva…
    PS: por aqui, principalmente nos momentos “cruciais” (que ocorrem todos os dias), nos lembramos do senhor. A falta se torna ainda mais presente quando precisamos de soluções inteligentes e equilibradas.
    Boas, ótimas férias!

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