De uma hora para outra notou que a mulher estava diferente, comportando-se de modo estranho.
Sussurros ao telefone, saídas repentinas, além de tratá-lo com certa frieza e ironia.
Resolveu prestar mais atenção e nada falar a ela.
Uma semana depois não tinha mais dúvidas: ela mudara, não era a mesma de antes.
Teria arrumado um amante?
Apesar dos quarenta anos recém-completados e de dois filhos, ela se mantinha em forma, o corpo tornara-se até mais voluptuoso, era inteligente e sagaz, tinha tudo para atrair um homem. Menos a ele, que se deixara tomar pela rotina do casamento e pouco reparava nela. Nem mesmo para o sexo tinha disposição e mantinham relações cada vez mais espaçadamente.
O quadro era perfeito para um par de chifres. Mulher ainda bonita e sensual, entediada com o marasmo da vida conjugal, que chega aos quarenta e lhe sobrevém o medo de envelhecer, manda tudo às favas e resolve desfrutar do tempo que lhe resta.
Coincidência ou não, começou a receber quase diariamente e-mails publicitários do Detetive Aranha, oferecendo-lhe seus serviços. O sujeito era um especialista no ofício, com uma empresa consolidada desde 1986 no ramo de investigação, com inúmeros casos solucionados, e ofertava um extenso rol de serviços: adultério, conjugal e familiar, flagrantes, com fotos e vídeos, dossiês de pessoas físicas e jurídicas, concorrência desleal, pessoas desaparecidas, infiltração de agentes (indústria e comércio), rastreamento de veículos “GPS” tempo integral, filmagens ocultas, em áudio e vídeo e muito mais!
Entrou no site da empresa para verificar. “Sigilo absoluto. Você pode confiar”.
Quando ia anotar o endereço, ainda hesitante se valia a pena investigar a mulher, deteve-se num detalhe do anúncio, no canto direito, ressaltado por uma bolota vermelha: “Flagrantes atravez de Fotos e Filmagens Provas Concretas para Justiça”.
Foi bem a tempo! Desistiu.
Quem escreve “atravez” com “z” não merece confiança. Talvez (com “z”) o Detetive Aranha devesse começar por investigar um dicionário.
E já não tinha certeza se queria ter certeza. O que faria? Expulsá-la de casa? O mais provável é que ele saísse, deixando a casa para as crianças e para ela, que sempre fora uma ótima mãe. Matá-la? Matar-se? Lavar com sangue a honra? Nunca tivera vocação para a tragédia, para ele a vida estava mais para o tragicômico.
Quem sabe ele também arrumasse uma amante?
Ainda em dúvida, nos dias seguintes começou a ter a sensação de que estava sendo seguido, o que a princípio reputou ser fruto da sua imaginação, em decorrência dos fatos recentes.
Todavia, embora tentasse afastar a ideia, sentia-se cada vez mais incomodado. Passou então a controlar pelos retrovisores do carro, pelo reflexo de vitrines ou espelhos e outros meios dissimulados, até perceber que era acompanhado por um mesmo carro verde metálico, e por um sujeito, que de vez em quando trazia enfiado na cabeça um chapeuzinho de feltro, e o qual chegou a entrever com uma câmera nas mãos.
Manteve-se atento por mais algum tempo e teve a certeza de que estava mesmo sendo espionado.
Um dia, ao sair do restaurante em que costumava almoçar com amigos, e ver o sujeitinho parado numa banca de revistas próxima, como quem não queria nada, perdeu a paciência, avançou de surpresa sobre ele e o agarrou pelo colarinho. O tipo era franzino, ao contrário dele, alto e forte, jogador de basquete e vôlei na juventude. Não teve dificuldade em dominá-lo e deixá-lo tremendo de medo, ainda mais quando os amigos, grandalhões como ele, também se acercaram.
Pois se tratava do Detetive Aranha, que se vendo flagrado em vez de flagrar, admitiu que o estava investigando, contratado pela mulher, que desconfiava de que ele tivesse uma amante.
De volta para casa, chamou a mulher e lhe contou tudo. Há muito tempo não se falavam tão francamente, e acabaram às gargalhadas. Ela ficara fria e distante por ciúme de que ele a estivesse traindo e por lhe dar pouca atenção. As conversas ao telefone e as saídas de casa eram justamente para se encontrar com o Detetive Aranha e receber seus relatórios, que nada revelavam.
Do riso passaram a se acarinhar com ardor e desejo crescentes. Aos tropeções, arrancando-se as roupas, foram para o quarto e se amaram com há muito tempo não faziam.
De vez em quando, enroscados na cama, ainda se lembram do episódio (ou seria espisódio?) e admitem que afinal de contas o Detetive Aranha lhes prestou um ótimo serviço.
Mister Spider rules!! Fiquei me perguntando o que será que aconteceria se esse herói encontrasse o Sherlock em férias no Rio…
Puxa, que diferença entre um simples “s” e um “z”!!! Também tenho o costume de “investigar” cuidadosamente os sites em que navego para verificar a… credibilidade que lhes devo ou não atribuir.
Teve uma época em que gostava de ler livros espíritas; as estórias são bem interessantes e podem ter algo precioso a nos ensinar. Mas quando uma autora de sucesso não tem um simples revisor da ortografia… não dá. Não sei como estão os livros dela hoje, mas não me arrisco a gastar meu dinheiro comprando livros com possíveis erros ortográficos. Chega a ferir a sensibilidade vendo erros bobos (e consequente divulgação, e até perenização, dos mesmos. Com o tempo, podemos nos acostumar com isto e nem conseguir mais distinguir o certo do errado. Nossa!!!)
Porque errar falando ou usando palavras ou expressões de outra linguagem, passa. Mas um prestador de serviços e, pior ainda, uma escritora de sucesso, realmente devem cuidar melhor de sua imagem.
Mas, voltando ao começo, quando o amor esfriar, Aranha neles!
Pra dizer a verdade, do alto de minha experiência (hahahaaha), acho que todo casal deveria de vez em quando despertar uma certa desconfiança, alfinetar com a possibilidade de uma traição. Sempre acaba por despertar o amor que está lá enrustido pelas mesmices, pela rotina que desencanta. Uma desconfiança, um ciúme repentino e o casal se torna mais atento para os detalhes que o tempo vai desmerecendo.