Posts from julho, 2010

 

                        Nas Pílulas, matar ou dançar, eis a questão.

 

O mesmo amor, a mesma chuva

 

 

 

 

                        Nestes dias de porre de futebol e de ressaca com o seleção nacional (mesmo que jamais tenha empolgado, a derrota é sempre uma decepção), insone e zapeando com o controle remoto numa hora morta da madrugada, deparo num dos canais a cabo (creio que o Cine Max), com o início de um filme da nova safra argentina, mas já de algum tempo (1999), com o lindo título acima, que jamais tinha ouvido falar (parece que nem chegou a ser lançado no circuito brasileiro).

                        Surpresa maior, nos créditos iniciais logo vejo que o diretor e coautor do roteiro é o mesmo Juan José Campanella, e o casal protagonista interpretado pelos mesmos Ricardo Darín e Soledad Villamil, de O Segredo dos Seus Olhos, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro este ano e que tanto me agradou. Vergonhosamente o filme até hoje não foi exibido pelos cinemas de Ribeirão Preto, dita capital da cultura(?), mas já se pode encontrá-lo em DVD.

                        O Mesmo Amor, A Mesma Chuva também me pareceu delicioso, e um verdadeiro embrião de O Segredo dos Seus Olhos, embora este, realizado 10 anos depois, seja uma obra mais madura, complexa e refinada.

                        Mas ambos têm muito em comum, especialmente a história de amor permeada pela vida cotidiana com seus pequenos dramas, enquanto grandes transformações acontecem no país, na década de 1980.

                        Jorge (Ricardo Darín) é um escritor de talento, mas que sobrevive produzindo contos românticos para uma revista de variedades, chamada Cosas — uma espécie de Caras —, que os próprios redatores e colaboradores não levam muito a sério, tanto que a chamam entre eles, jocosamete, de Cositas.

                        A charmosíssima Soledad Villamil protagoniza Laura, a quem ao cair de uma noite Jorge observa enternecido entregando-se à carícia das gotas de chuva durante uma tempestade de verão.

                        Pouco depois, Jorge assiste a um curta-metragem baseado num dos seus contos, no qual Laura é a atriz principal. O filme metido a vanguardista o desagrada e constrange, mas o que se salva é a atuação e a presença encantadora de Laura em cena. Eles se aproximam e iniciam uma relação que com o tempo se desgasta, em meio às desilusões crescentes com os rumos do país e das cobranças de Laura para que Jorge se dedique de vez à sua vocação de escritor, vencendo os receios e o comodismo que o impedem de mergulhar com convicção no ofício literário.

                        Cada um segue seu caminho, sobrevém a dolorosa guerra das Malvinas, a redemocratização cambiante do país. No início dos anos 1990, marcados pelo logro da era Menem, um Jorge amargo e ressentido continua a escrever contos insossos e resenhas encomendadas de críticas, ao passo que Laura tornou-se uma bem-sucedida produtora cultural.

                        O reencontro dos dois acontece numa outra noite de chuva, e talvez ainda haja tempo para que recuperem as afinidades e reavivem a chama do amor e do desejo que parece não ter se apagado de todo.

                        Sempre fui um sentimentalão, e isso se acha agora exacerbado desde o nascimento da Manuela. De todo modo, o filme me emocionou muito, não só pelas atuações mais uma vez primorosas de Darín e Soledad (há uma sintonia fina entre os dois, que Campanella soube captar e cuidou de repetir a dupla em O Segredo dos Seus Olhos), mas também pelos ótimos diálogos recheados de fino humor, pelos marcantes personagens secundários, e sobretudo pela esperança de que os reencontros sejam possíveis, que a amizade e o amor quando verdadeiros estejam sempre dispostos a começar de novo, aprendendo com os erros do passado.

 

 

 

 

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