Sobre a brevidade da vida

 

 

 

 

“Assim os bens máximos são possuídos em clima de insegurança. Nenhuma fortuna inspira mais preocupação do que a máxima. O sucesso depende de outro sucesso. Os auspícios postulam outros auspícios. Tudo que advém do azar é inseguro porque quanto mais altaneiro tanto mais propenso a desmoronar.” (Lucius Annaeus Seneca “Sobre a Brevidade da Vida”, capítulo XVIII)

 

 

                        Sobre a brevidade da vida talvez seja a obra mais conhecida de Sêneca. Foi escrita há cerca de dois milênios, sob a forma de cartas dirigidas a Paulino (cuja identidade é controvertida), que abordam o real sentido da existência diante do seu célere transcurso temporal. Entre outras reflexões, adverte Sêneca que o problema não é a velocidade do fluxo vital, que tanto nos aflige e lamentamos, mas sim a forma como se utiliza o tempo.

                        O pequeno trecho acima é um bom exemplo do seu pensamento sobre a insegurança e efemeridade da fortuna e do sucesso.

                        Se as cartas e os ensinamentos são dirigidos a Paulino, caem como uma luva para o já saudoso polvo Paul (mera coincidência de nomes?), que fez um estrondoso e merecido sucesso durante a última Copa do Mundo, ao prever certeiramente todos os resultados da seleção alemã e também o resultado da final entre Holanda e Espanha, passando a gozar de merecida “aposentadoria” desde então.

                        Segundo o comunicado oficial, “A administração e a equipe do Oberhausen Sea Life Center ficaram arrasadas ao descobrir que o polvo Paul, que alcançou a fama mundial durante a última Copa do Mundo, morreu na última noite”. Consta, ainda, que Paul será cremado e construída uma estátua em sua homenagem.

                        A morte de Paul é um dos assuntos mais comentados do dia, na internet e pelo Twitter. Tiago Leifert, sempre bem humorado e criativo, exibiu uma divertida matéria lamentando o infausto acontecimento no programa  Globo Esporte SP  de hoje, quando fiquei sabendo do passamento do querido molusco, que o Boca do Inferno incluiu entre as dez melhores coisas da Copa de 2010 no seu balanço final, lá nas Pílulas.

                        Confirmando Sêneca, Paul viveu brevemente, apenas dois anos, tempo médio de vida da sua espécie, Octopus vulgaris.

                        Resquiecat in pace!

 

 

 

 

Um comentário

  1. Lilian
    27/10/10 at 8:45

    Confesso que também fiquei consternada quando soube do acontecimento.
    Se um tempo de vida para o ser humano é 90, 95 anos, os polvos vivem muito pouco! – Apenas dois anos?
    O maior problema talvez seja mesmo a forma como usamos o nosso tempo e não o espaço temporal a ser vivido. Olhando para o que passou, constato que tenho caminhado devagar; muito devagar. Mas o que fazer quando não se sabe o que ou quem se é? – Ir tateando no escuro, evitando maiores danos. Conseguindo, então, alguma noção dos diversos porquês a responder-se dá para, pelo menos, começar a traçar um plano de navegação mais eficiente, que possa nos conduzir ao destino almejado.
    Que o tempo nos agracie com sua generosidade!

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