Posts from maio, 2011

O subversivo jasmim

 

 

 

 

                        O jasmim é um arbusto escandente da família das oleáceas, de flores muito aromáticas, brancas, amarelas ou róseas, que apresenta diversas variações, algumas delas conhecidas como jasmim-da-itália, jasmim-de-madagascar, jasmim-dos-açores, jasmim-dos-poetas, jasmim-da-espanha ou jasmineiro-galego. Este último, apesar do nome, é nativo do Cáucaso ao sudoeste da China, e cultivado como ornamental pelo óleo volátil, também usado em perfumaria. Suas flores, de um amarelo vivo, são utilizadas para preparar o tradicional chá muito consumido no Extremo Oriente. Na época da China Imperial, era bebida exclusiva dos nobres da corte, e consta que tem propriedades medicinais como aliviar o estresse; diminuir a ansiedade, a tensão e a exaustão nervosa. Ajuda, ainda, a combater os sintomas da depressão, é excelente calmante e favorece um sono tranquilo. Em compressas, auxilia no tratamento da conjuntivite e problemas da pele. Na medicina popular também é usado para aliviar dores de cabeça e enxaqueca.

                        Pois não é que o governo comunista da poderosa China está morrendo de dor de cabeça e se borrando de medo dessa arvorezinha à toa?

                        A denominada “Revolução do Jasmim” que derrubou a ditadura na Tunísia e que vem se espalhando como um rastilho aceso por Egito, Argélia, Bahrein, Sudão, Irã, Iêmen, Líbia, Jordânia, Síria, fez a burocracia que comanda a China com mãos de ferro pôr as barbas de molho, principalmente depois que circulou pela Internet uma convocação anônima para as massas se concentrarem em grandes cidades como Xangai e Pequim. A resposta foi imediata e as ruas foram tomadas pela polícia e imprensa. Ao contrário do que davam a entender os rumores, as massas desandaram, mesmo assim o número de policiais nas ruas demonstrou claramente o temor do governo.

                        A cobertura dos acontecimentos no mundo árabe foi proibida, para que não sirva de mau exemplo. A internet esta sob censura ainda mais rígida e mesmo a simples e inofensiva palavra “jasmim” está sendo apagada do vocabulário chinês. Um homem foi detido ao colocar flores de jasmim num local onde se esperava que o povo se concentrasse. Detido, defendendeu-se perguntando: “Que há de errado nisso?”.

                        Até mesmo um vídeo do “presidente” chinês desapareceu da rede porque nele Hu Jintao cantava a música “Molihua” (Flor de Jasmim) com um grupo de estudantes da língua chinesa no Quênia, durante uma visita oficial ao país africano em 2006. A canção entoada por Hu é uma das melodias tradicionais mais famosas da cultura chinesa e também foi cantada em dezembro durante a cerimônia de entrega do prêmio Nobel da Paz ao dissidente chinês preso Liu Xiaobo.

                        Agora se noticia que o governo chinês determinou que os jasmineiros sejam cortados em todo o país, para não correr nenhum risco!

                        A China tornou-se a nova queridinha dessa praga conhecida como analistas econômicos, que elogiam e apontam como modelo o seu impressionante desenvolvimento econômico, conseguido à custa do trabalho escravo a que se acha submetida a sua imensa população, dos sacrifícios que lhe são impostos e das restrições às liberdades típicas das autocracias.

                        Parece, porém, que os regimes de força, mais dia, menos dia, não resistem às flores, e despencam com as folhas no outono.

                        Além da “Revolução do Jasmim”, a ditadura militar do Brasil tremeu diante da célebre canção de Vandré, “Pra não dizer que não falei das flores”, e a “Revolução dos Cravos” em Portugal acabou de vez com o agonizante regime salazarista.

                        Um dia, ainda que tarde, os jasmins voltarão a florir na China.