Foi a Bell quem alertou, enquanto caminhávamos pela Avenida Atlântica após o jantar.
— Nossa, a lua deve estar enorme! Olha só como ilumina o mar lá adiante.
De onde estávamos, algumas árvores obstruíam a visão da lua, porém o mar parecia mesmo iluminado por um holofote na linha do horizonte.
Mais alguns passos e vislumbramos um pedacinho da lua, escondida pela única nuvem do céu azul profundo.
Pouco a pouco, a lua foi despontando detrás da nuvem, até exibir seu gordo e irradiante carão, que parecia sorrir para nós.
— Desde que dei ela para a Manuela, a lua anda muito exibida e feliz, dizia eu quando senti uma leve carícia no pescoço, seguida de um tranco.
Instintivamente segurei a corrente de ouro com a medalha de Santo Antônio que, arrebentada, deslizou para minha mão.
Girei o corpo, proferindo um palavrão, e vi o larápio que se afastava correndo com suas pernas longas, a bermuda vermelha e larga balançante ao vento.
— Vamos embora daqui, vamos embora daqui, implorava Bell, sem atinar que o perigo fugia de nós às carreiras.
Quando chegamos ao hotel poucos metros adiante, ela ainda estava com as mãos e os lábios trêmulos, a se lembrar do assalto aterrador que sofreu na praça próxima de nossa casa em Ribeirão Preto, cuja catarse foi o curta De Assalto, que ela filmou alguns meses depois.
Como anota o cartaz do filme, o ladrão nos tira muito mais do que os pertences levados ou não.
Esse nos roubou a lua, a noite calma e encantada de um Rio de Janeiro outonal.
Agora, como a correntinha partida que ficou na minha mão, é preciso juntar os elos e seguir em busca da próxima lua cheia que haverá de reluzir.
Muito sutil, parabéns.
Pois é meu bom amigo Antonio Carlos Augusto, infelizmente, estão nos afastando da nossa cidade maravilhosa. Mas não há de ser nada, a lua continuará nos encantando e nos inspirando e o Rio de Janeiro continuará lindo, apesar dos pesares!
forte abraço do leitor,
c@urosa
Mas, afinal, não entendi direito:
A correntinha e o Santo Antônio foram salvos?
– Eu passeava bastante pela avenida margeando o mar de Vitória, à noite; mas isso foi há uns 20 anos atrás, e sem qualquer adereço, só a roupa, mesmo.
O Rio, ainda não tive oportunidade de conhecer e não sei se conseguiria andar por lá com alguma liberdade, sem a impressão horrível de estar correndo perigo (dizem que, quem tem medo, vive pela metade; eu estou perdendo o Rio de Janeiro…)
Como sempre eu fico no mundo da lua e vem alguém e faz questão de roubar esse momento. Saco cheio de assaltante… Ti doro