Era no país do carnaval.
Um dos seus poetas mais queridos e festejados havia cantado:
Oh! Bendito o que semeia
Livros… livros à mão cheia…
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.
Tempos depois, outro famoso escritor (que agora estava sob censura) dissera: “Um país se faz com homens e livros”.
Era preciso portanto que a capital federal, no planalto plantada, especialmente projetada e tida como a mais moderna do mundo, contasse com uma biblioteca à altura.
O provecto arquiteto foi convocado como um centurião para a missão patriótica, e concebeu mais uma de suas estruturas visionárias, que muitos acham pouco funcionais e acolhedoras ou, como dizia o povo de antanho, “por fora, bela viola; por dentro, pão polorento.”
E se fez a grandiosa biblioteca, que custou ao governo mais de 40 milhões de dinheiros.
Inaugurada com pompa e circunstância, passou os dois primeiros anos à espera dos livros, que finalmente chegaram e foram acomodados nas amplas instalações, com ar condicionado, controle de umidade, tudo do bom e do melhor.
Acontece que os mais de 100 mil exemplares não se acham disponíveis para empréstimo ou consulta, à falta de um sistema de monitoramente e segurança dos livros retirados ou manuseados.
Ouvido, o diretor da biblioteca saiu-se com esta: hoje em dia, livros são absolutamente secundários e dispensáveis em uma biblioteca, que proporciona ao público inúmeras atividades mais adequadas à nossa época, entre as quais a pesquisa e a consulta, por meio da internet, dos livros de outras bibliotecas espalhadas pelo mundo!
Não é ficção. O país existe e tudo isso aconteceu de fato. Qualquer coincidência, é pura semelhança.
A propósito, “biblioteca” provém do grego “biblíon”, que significa “livro”. Mas isso também é secundário e dispensável.