Posts from maio, 2011

A ilustre casa de livros

 

 

 

           Era no país do carnaval.

           Um dos seus poetas mais queridos e festejados havia cantado:

 

                                  Oh! Bendito o que semeia

                                  Livros… livros à mão cheia…

                                  E manda o povo pensar!

                                  O livro caindo n’alma

                                  É germe — que faz a palma,

                                  É chuva — que faz o mar.

 

           Tempos depois, outro famoso escritor (que agora estava sob censura) dissera: “Um país se faz com homens e livros”.

           Era preciso portanto que a capital federal, no planalto plantada, especialmente projetada e tida como a mais moderna do mundo, contasse com uma biblioteca à altura.

           O provecto arquiteto foi convocado como um centurião para a missão patriótica, e concebeu mais uma de suas estruturas visionárias, que muitos acham pouco funcionais e acolhedoras ou, como dizia o povo de antanho, “por fora, bela viola; por dentro, pão polorento.”

           E se fez a grandiosa biblioteca, que custou ao governo mais de 40 milhões de dinheiros.

           Inaugurada com pompa e circunstância, passou os dois primeiros anos à espera dos livros, que finalmente chegaram e foram acomodados nas amplas instalações, com ar condicionado, controle de umidade, tudo do bom e do melhor.

           Acontece que os mais de 100 mil exemplares não se acham disponíveis para empréstimo ou consulta, à falta de um sistema de monitoramente e segurança dos livros retirados ou manuseados.

           Ouvido, o diretor da biblioteca saiu-se com esta: hoje em dia, livros são absolutamente secundários e dispensáveis em uma biblioteca, que proporciona ao público inúmeras atividades mais adequadas à nossa época, entre as quais a pesquisa e a consulta, por meio da internet, dos livros de outras bibliotecas espalhadas pelo mundo!

           Não é ficção. O país existe e tudo isso aconteceu de fato. Qualquer coincidência, é pura semelhança.

           A propósito, “biblioteca” provém do grego “biblíon”, que significa “livro”. Mas isso também é secundário e dispensável.