A ilustre casa de livros

 

 

 

           Era no país do carnaval.

           Um dos seus poetas mais queridos e festejados havia cantado:

 

                                  Oh! Bendito o que semeia

                                  Livros… livros à mão cheia…

                                  E manda o povo pensar!

                                  O livro caindo n’alma

                                  É germe — que faz a palma,

                                  É chuva — que faz o mar.

 

           Tempos depois, outro famoso escritor (que agora estava sob censura) dissera: “Um país se faz com homens e livros”.

           Era preciso portanto que a capital federal, no planalto plantada, especialmente projetada e tida como a mais moderna do mundo, contasse com uma biblioteca à altura.

           O provecto arquiteto foi convocado como um centurião para a missão patriótica, e concebeu mais uma de suas estruturas visionárias, que muitos acham pouco funcionais e acolhedoras ou, como dizia o povo de antanho, “por fora, bela viola; por dentro, pão polorento.”

           E se fez a grandiosa biblioteca, que custou ao governo mais de 40 milhões de dinheiros.

           Inaugurada com pompa e circunstância, passou os dois primeiros anos à espera dos livros, que finalmente chegaram e foram acomodados nas amplas instalações, com ar condicionado, controle de umidade, tudo do bom e do melhor.

           Acontece que os mais de 100 mil exemplares não se acham disponíveis para empréstimo ou consulta, à falta de um sistema de monitoramente e segurança dos livros retirados ou manuseados.

           Ouvido, o diretor da biblioteca saiu-se com esta: hoje em dia, livros são absolutamente secundários e dispensáveis em uma biblioteca, que proporciona ao público inúmeras atividades mais adequadas à nossa época, entre as quais a pesquisa e a consulta, por meio da internet, dos livros de outras bibliotecas espalhadas pelo mundo!

           Não é ficção. O país existe e tudo isso aconteceu de fato. Qualquer coincidência, é pura semelhança.

           A propósito, “biblioteca” provém do grego “biblíon”, que significa “livro”. Mas isso também é secundário e dispensável.

 

 

 

 

 

 

4 comentários

  1. Pois é meu caro amigo Antonio Carlos Augusto, essa é a nossa nobre nação tupiniquim ( peço perdão aos tupiniquins). O livro nunca foi necessário, só na hora de se justificar os gastos públicos. Essa imagem fotográfica da referida biblioteca mais parece uma cópia melhorada dos prédios dos famigerados CIEPs, um projeto educacional do saudoso Darcy Ribeiro. Coisas do velho arquiteto.

    PS: Realmente, são poucos funcionais e acolhedores, trabalhei durante anos num prédio dos CIEPs.

    forte abraço do leitor,

    C@urosa

  2. sonia k.
    27/05/11 at 8:57

    Tem certos fatos desse nosso país tão conturbado e desvalido, que contando parece mentira.Existe alguma outra biblioteca no mundo onde os livros não podem ser manuseados, lidos ou emprestados?
    Antigamente as bibliotecas, até as mais simples em cidadezinhas do interior, tinham uma espécie de fichário onde se registravam os livros, quem retirou, fichando cada um com os dados necessários. Será que com tanta gente sem fazer nada naquele palaciano planalto, não se poderia dispor de alguns pra fazer o necessário, até que se dignem a instalar algo mais moderno e de acordo com o que demonstram?
    São tantas as perguntas que ficam gritando que…..

  3. Lilian
    27/05/11 at 17:02

    Vou pedir minha transferência para esse lugar maravilhoso!
    Trabalhar lá deve ser tudo mesmo de bom…
    Estive admirando (e segurando o queixo) algumas paisagens do Caribe, mas nesse lugar (a tal Biblioteca) deve ser férias o ano todo!
    O Caribe é aqui. Digo, em Brasília.

  4. 31/05/11 at 21:19

    É muita indigência… Era da Mediocridade.

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