No Rio de Janeiro, recomendado pela querida amiga Selma Barcellos, fui com minha filha Bell à exposição sobre Fernando Pessoa, no Centro Cultural dos Correios.
Trata-se da mesma exposição já realizada em São Paulo pelo Museu da Língua Portuguesa, onde estive num dia ruim, em que várias escolas levaram seus alunos. Acho isso ótimo, mas eu tinha pouco tempo, a balbúrdia era muito grande e não pude percorrer toda a exposição com a calma e atenção necessárias, o que foi possível desta vez, no Rio.
O conjunto de elementos visuais e informativos da exposição é absolutamente empolgante. Vídeos, fotografias, reproduções de manuscritos, jogo de espelhos que nos multiplicam como as tantas pessoas de Pessoa, uma simulação de caixa de areia em que versos vão sendo escritos, apagam-se com a chegada da onda, e voltam a ser inscritos, uma simples mesa com diversos exemplares da obra de Pessoa, para que as pessoas visitantes folheiem e leiam à vontade. Um alumbramento!
Emocionou-me em especial a perfeita reprodução do manuscrito do célebre poema Autopsicografia com a grafia do poeta e as correções por ele feitas, de modo a permitir que se acompanhe o processo de criação. Na primeira estrofe, por exemplo, a versão originária era:
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que ele próprio sente.
O último verso foi riscado e substituído pelo definitivo “A dor que deveras sente”.
Apenas por isso já valeria ter ido à exposição!
Saímos de lá ao sol poente, e contrariando os conselhos do taxista que nos havia levado, resolvemos caminhar algumas quadras pelas cercanias.
Numa ruazinha transversal, deparamos com várias mesas perfilhadas, em que todos os comensais, homens e mulheres, estavam de chapéu. Ouvia-se música ao fundo. Não resistimos a nos aproximar para saber do que se tratava.
Era a “Confraria do Chapéu-Panamá”, que ali se reúne num almoço mensal. O grão-mestre é o dono de uma barbearia (daquelas de antigamente, com lindas cadeiras de couro e ferro trabalhado), que sabe tudo a respeito do chapéu-panamá, cujos modelos diversos expõe e vende na própria barbearia, defronte da qual se realiza a confraternização por ele organizada todos os meses.
Há muito andava atrás de um panamá genuíno para personificar meu heterônimo carioca, Tom Gama, mas sempre que encontrava era muito caro. Depois de uma aula sobre a feitura do chapéu, seus diversos tipos, e como usá-lo (a aba abaixada na frente, a cerca de dois dedos da sobrancelha), acabei por cobrar um para mim e outro para a Bell, a preço bem razoável
O grão-mestre disse que nasci para usar chapéu-panamá, e, mesmo não morando o Rio de Janeiro, fez questão que assinássemos a ficha de inscrição na confraria. Prometeu-nos comunicar por e-mail as promoções e os almoços para que deles participemos doravante, caso estejamos no Rio.
Tenho agora mais um motivo, entre tantos, para ir à Cidade Maravilhosa, que sempre me surpreende com novos encantos a cada novo encontro.