10 juin 1759, Denis Diderot à Sophie Volland
J’écris sans voir. Je suis venu. Je voulais vous baiser la main et m’en retourner. Je m’en retournerai sans cette récompense. Mais ne serai-je pas assez récompensé, si je vous ai montré combien je vous aime. Il est neuf heures. Je vous écris que je vous aime, je veux du moins vous l’écrire; mais je ne sais si la plume se prête à mon désir. Ne viendrez-vous point que je vous le dise et que je m’enfuie? Adieu ma Sophie, bonsoir. Votre cœur ne vous dit donc pas que je suis ici. Voilà la première fois que j’écris dans les ténèbres. Cette situation devrait m’inspirer bien des choses tendres. Je n’en éprouve qu’une, c’est que je ne saurais sortir d’ici. L’espoir de vous voir un moment me retient, et je continue de vous parler, sans savoir si je forme des caractères. Partout où il n’y aura rien, lisez que je vous aime.
10 de junho de 1759, Denis Diderot à Sophie Volland
Escrevo sem ver. Vim. Queria beijar tua mão e ir-me embora. Voltarei sem essa recompensa. Mas já não serei bastante recompensado, se tiver te mostrado o quanto te amo? São nove horas. Escrevo-te que te amo, quero ao menos escrevê-lo; mas não sei se a pena se presta a meu desejo. Será que não virás para que eu te diga e depois fuja? Adeus minha Sophie, boa noite. Teu coração então não está te dizendo que estou aqui. Essa é a primeira vez que escrevo nas trevas. Essa situação deveria me inspirar muitas coisas ternas. Sinto apenas uma, é que me é impossível sair daqui. A esperança de te ver um instante me detém, e continuo te falando, sem saber se estou formando caracteres. Em todo lugar onde nada houver, lê que te amo.
(tradução de Alain Mouzat)
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Pois é nobre amigo Antonio Carlos Augusto, escrever o amor , a paixão, para mim foi sempre ridiculamente gostoso…saudades das cartas postadas num tempo ingênuo que não volta mais… saudades…
forte abraço do leitor,
C@urosa
Ah, Antonio, amo a expressão “posta-restante”… Vem carregada de saudade, surpresa, decepção…
O excerto é belíssimo, a tradução é primorosa.
E Álvaro de Campos… ça va sans dire.
Definitivamente, este seu “sítio” é de visita obrigatória.
Beijocas.
Acabo de chegar da “noitada” a Cascais (aqui já é 1 da manhã). Sabe o que tocava quando cheguei? Adoniran!!! Penso que Rubi ficaria orgulhosa…
Selma,
Adoniran em Cascais é demais. Acho que ele já previa nos bordões: “cas, cas, cas, cais, cas, cas, cais…”
Conta pra Rubi no bloghetto.
Não sei se ridículas, mas é impossível viver sem escrever cartas de amor.
Aquelas de quando quase crianças, as da adolescência, de jovem e por que
não até na maturidade?
Sou apaixonada por cartas. As que escrevo e sempre tenho ansiedade por receber respostas. Hoje, devido ao e-mail e todas as tecnologias disponíveis, já não se escrevem cartas. Acho uma pena muito grande.
Por vezes escrevo longas cartas, mesmo que não sejam postadas. Tenho até uma pasta de Cartas à Minha Mãe que passei a escrever após sua morte. São longos papos cheios de amor.
“Mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas”.
Antonio, com os devidos créditos pela genial tirada, deixei o comentário na MH (post do niver de Adoniran).
Beijocas.
Lindo, lindo, lindo!
Mas penso que, amores assim, só aqueles irrealizáveis.
Não consigo me imaginar escrevendo, sentindo, algo tão profundo por alguém próximo a mim fisicamente, que faz parte do meu dia a dia (ou seja, um “amor real”).
Será que o amor só é grande, maravilhoso, quando, por alguma circunstância, é impossível? E, conseguindo esse amor, ele continuaria tãooooo grandioso assim? – A conferir.
Vendo um poema lindo, só me ocorre outro poema lindo:
“Amar é Pensar”
Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.
Alberto Caeiro, in “O Pastor Amoroso”
Heterónimo de Fernando Pessoa