Teu corpo é a minha cidade,
nas tuas ruas e avenidas
minha vida transita aflita
ao pulsar do sangue nas artérias.
No calor e na lassidão da tarde
passeio-me aturdido e expectante
pelas tuas alamedas e vielas
espiando-te as janelas entreabertas.
Sensações e ânsias incertas
crescem-me em desmedida
à medida de tua irradiante luz,
mas no súbito obscuro me vejo
a descer a ladeira que conduz
ao beco sem saída do desejo.
Sempre admirei os poetas, mas jamais imaginei que teria um assim, tão perto de mim. Pensava como seria uma conversa com Pablo Neruda (“Perdemos, outra vez, este crepúsculo”… ou “Quero apenas cinco coisas…”); como seria um dia com Gonçalves Dias (imagino que ele seja tão intenso como eu… “Enfim te vejo!”…) e, agora, vejo-me trabalhando pertinho de um poeta, que já foi meu professor e mestre de todos os dias.
Talvez, num futuro distante, quem sabe, alguma outra Lilian se pergunte, muito curiosamente, como seria o poeta Dr.Gama… Abro uma janela para o futuro e, através da levíssima cortina branca, é isto o que vejo: alguém com um livro (ou Ipad!!!) nas mãos, os olhos sonhadores num enlevo sem fim, desenhando com seus pensamentos um poeta de sua admiração.
E eu, aqui, hoje, tenho o privilégio de conhecer um poeta, sei (mais ou menos!) como é um poeta, porque tenho o privilégio de estar perto do Dr.Gama.
Lílian, o seu comentário é um poema, caloroso e lírico.
Só peca pelo exagero amigo.
Muito obrigado.
Beijos.
Da mesma forma que existe “licença poética” deve existir, também, “licença amiga”… rsrs
Simpatia, segundo nosso Pessoa*, é vibrar com o poema e emprestar-lhe sentido.
Pois. Do primeiro ao último verso, completa entrega desta leitora. Bravo!
Antonio, “Cidade nua” faz parte de alguma coletânea sua já publicada? Por favor, aponte-me o acesso.
Beijocas!
* Em “Conhecimento e Conversação do Santo Anjo da Guarda”
A simpatia “pessoniana”, você bem sabe, é recíproca, Selma. À primeira vista (ou lida).
“Cidade nua” é, ou era, inédita.
Beijocas.
Menino, como consegue ser tão puro e doce colocando toda a lassidão e calor de uma tarde de latente amor? Sua sutileza e forma nas colocações são realmente empolgantes. Eu fico aqui lendo e relendo, aprendendo como não ser visceral e conseguir manter tanta delicadeza.
Adoro ler você!
Poesia cidadã! Geográfica e expedicionária, investigativa e desbravadora, estrangeira e doméstica… tudo isso sob o fog (ou neblina!?) do romance e da emoção. A busca do inusitado ou o reencontro do conhecido. “Vou explorar teu corpo nu, vou me perder pra te encontrar…”
Comentário de parceiro/irmão é fogo!
Despe-nos o corpo e a alma, e nos lembra de caminhos em que já nos perdemos…