Cidade nua

 

 

 

                                   Teu corpo é a minha cidade,

                                   nas tuas ruas e avenidas

                                   minha vida transita aflita

                                   ao pulsar do sangue nas artérias.

                                   No calor e na lassidão da tarde

                                   passeio-me aturdido e expectante

                                   pelas tuas alamedas e vielas

                                   espiando-te as janelas entreabertas.

                                   Sensações e ânsias incertas

                                   crescem-me em desmedida

                                   à medida de tua irradiante luz,

                                   mas no súbito obscuro me vejo

                                   a descer a ladeira que conduz

                                   ao beco sem saída do desejo.

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

8 comentários

  1. Lilian
    26/10/11 at 17:24

    Sempre admirei os poetas, mas jamais imaginei que teria um assim, tão perto de mim. Pensava como seria uma conversa com Pablo Neruda (“Perdemos, outra vez, este crepúsculo”… ou “Quero apenas cinco coisas…”); como seria um dia com Gonçalves Dias (imagino que ele seja tão intenso como eu… “Enfim te vejo!”…) e, agora, vejo-me trabalhando pertinho de um poeta, que já foi meu professor e mestre de todos os dias.
    Talvez, num futuro distante, quem sabe, alguma outra Lilian se pergunte, muito curiosamente, como seria o poeta Dr.Gama… Abro uma janela para o futuro e, através da levíssima cortina branca, é isto o que vejo: alguém com um livro (ou Ipad!!!) nas mãos, os olhos sonhadores num enlevo sem fim, desenhando com seus pensamentos um poeta de sua admiração.
    E eu, aqui, hoje, tenho o privilégio de conhecer um poeta, sei (mais ou menos!) como é um poeta, porque tenho o privilégio de estar perto do Dr.Gama.

    • 27/10/11 at 11:00

      Lílian, o seu comentário é um poema, caloroso e lírico.
      Só peca pelo exagero amigo.
      Muito obrigado.
      Beijos.

      • Lilian
        27/10/11 at 14:20

        Da mesma forma que existe “licença poética” deve existir, também, “licença amiga”… rsrs

  2. 27/10/11 at 9:25

    Simpatia, segundo nosso Pessoa*, é vibrar com o poema e emprestar-lhe sentido.
    Pois. Do primeiro ao último verso, completa entrega desta leitora. Bravo!

    Antonio, “Cidade nua” faz parte de alguma coletânea sua já publicada? Por favor, aponte-me o acesso.

    Beijocas!

    * Em “Conhecimento e Conversação do Santo Anjo da Guarda”

    • 27/10/11 at 10:56

      A simpatia “pessoniana”, você bem sabe, é recíproca, Selma. À primeira vista (ou lida).

      “Cidade nua” é, ou era, inédita.

      Beijocas.

  3. sonia k.
    27/10/11 at 19:30

    Menino, como consegue ser tão puro e doce colocando toda a lassidão e calor de uma tarde de latente amor? Sua sutileza e forma nas colocações são realmente empolgantes. Eu fico aqui lendo e relendo, aprendendo como não ser visceral e conseguir manter tanta delicadeza.
    Adoro ler você!

  4. Poesia cidadã! Geográfica e expedicionária, investigativa e desbravadora, estrangeira e doméstica… tudo isso sob o fog (ou neblina!?) do romance e da emoção. A busca do inusitado ou o reencontro do conhecido. “Vou explorar teu corpo nu, vou me perder pra te encontrar…”

    • 31/10/11 at 14:50

      Comentário de parceiro/irmão é fogo!
      Despe-nos o corpo e a alma, e nos lembra de caminhos em que já nos perdemos…

Deixe um comentário

Yay! You have decided to leave a comment. That is fantastic! Please keep in mind that comments are moderated. Thanks for dropping by!