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Se vocês acharam que o “Prosa Afiada” estava de férias e despejando as prosas pelos bares da vida está muito enganado! Durante os últimos meses a equipe do Prosa Afiada se reuniu, estudou, construiu e levantou um projeto especial encomendado pelo Sesc São Carlos que muito nos honra.
Estreia no dia 29.11 (terça-feira) a partir das 20h no Teatro do Sesc São Carlos o “Prosa Afiada conta Vinícius de Moraes, o poeta da vida”.
A nova contação tem como base a Antologia Poética de Vinícius de Moraes. Para elaborar o trabalho, contamos com o apoio da querida Thais Pollimeni da Cult Cultura e da VM, detentora dos direitos autorais do Vinícius. Com as devidas autorizações concedidas fizemos um repertório incrível de poemas e textos que serão costurados com o talento da cantora Ana Gilli e dos músicos Leandro Brenner e Fernando Silveira. Os três já possuem um show chamado “Como dizia o poeta” com anos de estudo sobre o Vinícius. Assim, juntamos a nossa experiência com a deles e o trabalho está ficando lindo.
O roteiro foi criado por Bell Gama que contou com a ajuda de Marisa Giannecchini e Antonio Carlos Augusto Gama que nos deram uma verdadeira aula sobre poesia e Vinícius de Moraes. Eles ajudaram não só no argumento dos textos como também na compreensão da poesia como até nos cederam histórias.
Desta vez, Karina Giannecchini dividirá o palco com Murilo Inforsato. A dupla representará diversos personagens, declamará as poesias e mais detalhes não podemos falar… afinal de contas, queremos é que você assista o trabalho super bacana que eles estão desenvolvendo com a direção do Fernando Aveiro, que veio para acrescentar ainda mais qualidade a nossa Prosa.
Muita gente bacana envolvido no projeto. Olha só:
Atores: Karina Giannecchini e Murilo Inforstato
Músicos: Ana Gilli, Leandro Benner e Fernando Silveira
Direção musical: Leandro Brenner
Roteiro original: Bell Gama – colaboração de Marisa Giannecchini e Antonio Carlos Augusto Gama
Direção: Fernando Aveiro
Luz: Marcelo Viola
Fotos: Felipe Murgas
Arte divulgação: Rodrigo Placeres
Apoio: Cult Cultura e Galpão do Folias
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Faça-se justiça: “Rio Antigo” não é apenas de Chico Anysio. É dele e do parceiro Nonato Buzar.
“Você compraria um carro usado dele?”
A importância que os brasileiros damos ao automóvel já se tornou proverbial, e é tamanha que até mesmo se alçou a critério de aferição da idoneidade de alguém ou do grau de confiança que uma pessoa nos merece.
Você compraria um carro usado dos nossos políticos e governantes?
Com licença de Terêncio, sou brasileiro, e nada do que seja brasileiro é alheio a mim. Também gosto de automóvel, bem menos atualmente, mas ainda gosto.
Nunca me esquece a ansiedade dos meus verdes 18 anos pelo primeiro carro, um fusca azul atlântico que meu pai me repassou ao comprar um novo, e que aos poucos incrementei com talas largas, rádio e cassete separados (o cassete ficava numa bandeja, abaixo do painel), volante pequeno de couro (que apenas dificultava ainda mais as manobras sem o conforto da tecnologia hidráulica ou elétrica), escapamento barulhento e outras firulas.
Como Leonardo DiCaprio na proa do “Titanic” sentia-me o dono do mundo. Felizmente não encontrei nenhum iceberg pela frente.
Com o tempo, e cada vez mais, o automóvel passou a ser para mim apenas um meio de locomoção, de que não posso prescindir diante da precariedade do transporte público.
O trânsito irracional, a estupidez da grande maioria dos motoristas, a absoluta falta de solidariedade tiraram-me o prazer de dirigir, que apenas sinto rara e fugazmente numa noite de lua cheia, rodando por uma pista bem asfaltada e com pouco movimento, sem compromisso com a hora de chegar.
Há mais de seis anos não trocava de carro, e não sentia a menor necessidade disso. O meu Honda Civic, que só uso na cidade e está com baixíssima quilometragem, me serve perfeitamente e bem poderia ficar com ele muitos anos ainda.
Todavia, minha mulher (que, aliás, não dirige) e minhas filhas insistiram em me dar de presente de aniversário (que eu pagarei) um automóvel novo: “Você merece, deixa de ser ranzinza e pão duro”. “Daqui a pouco você vai entrar para a confraria dos colecionadores de carros antigos”.
Comprei-o, afinal, repleto de tecnologia e com belas linhas. A burocracia está sendo cumprida e devo apanhá-lo no decorrer desta semana.
Enquanto isso, sinto-me nostálgico por me separar do meu bom amigo, que me acompanhou todos esses anos.
Não sei se isso possa ser classificado como traço materialista, mas costumo me apegar a coisas e objetos que uso durante muito tempo e que de certo modo parece que têm vida e fazem parte da minha vida. O mesmo está acontecendo com os óculos de míope, que uso desde os 17 anos e estou prestes a deixar de vez (opero também esta semana o outro olho).
Um amigo de quando comecei a usar óculos, grande poeta, e que já carregava os óculos há vários anos, disse-me sabiamente naquela época que éramos privilegiados por poder enxergar o mundo com olhos míopes e com a visão normal (ou quase), corrigida pelas lentes.
Quando vejo um automóvel ostentando a inscrição de “Vende-se” no vidro traseiro, fico penalizado com a insensibilidade do dono, ao fazer o próprio rejeitado anunciar o desapreço.
Desse, jamais compraria um carro usado.
Na semana passada, ao “prestar esclarecimentos” na Câmara Federal, o Lobo Lupi, além de jurar amor à Chapeuzinho Dilma, prestou-se a uma tosca mis-en-scène ao procurar um papel sobre a mesa para se “lembrar” do nome do “desconhecido” “Seu Adair”, que no Senado não só admitiu conhecer, como ter viajado com ele no tal jatinho.
Só pela canastrice já merecia ser defenestrado da pasta e posto para trabalhar de fato.
Para que gastar “bala de prata” com um lobo bobo e pesadão assim?
“Homo homini lupus”…
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Enivrez-vous (Charles Baudelaire)
Il faut être toujours ivre. Tout est là: c’est l’unique question. Pour ne pas sentir l’horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.
Mais de quoi ? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous.
Et si quelquefois, sur les marches d’un palais, sur l’herbe verte d’un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l’ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l’étoile, à l’oiseau, à l’horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est et le vent, la vague, l’étoile, l’oiseau, l’horloge, vous répondront : «Il est l’heure de s’enivrer! Pour n’être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous ; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise.»
Embriagai-vos
É preciso estar sempre embriagado. Isso é tudo: essa é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que vos esmaga os ombros e vos verga para chão, é preciso que vos embriagueis sem trégua.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, ao vosso sabor. Mas embriagai-vos.
E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de uma vala, na solidão morna do vosso quarto, acordardes de uma embriaguez esvanecida ou finda, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão: “são horas de vos embriagardes! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia, ou de virtude, ao vosso sabor.”
Quem é esse sujeito mofino que espantado me olha do espelho?
Até que se parece comigo, mas que é dos óculos que há tanto uso e sem os quais não me enxergo?
Desde 28 de outubro passado é assim que me vejo, e me estranho, no espelho logo de manhã, quando lavo o rosto e escovo os dentes.
No dia anterior, submeti-me à cirurgia de catarata no olho esquerdo e, além da dita cuja, a lente colocada em substituição ao cristalino corrigiu minha miopia e meu astigmatismo, companheiros velhos de guerra.
Já na manhã seguinte, sem o tampão que o médico me autorizou a tirar, me vi com um olho de águia, sem necessidade dos óculos no nariz.
O problema é que o outro olho continua de morcego, e aí parece que estou com um tampão invisível nele.
E o olho de águia só funciona para longe. De perto, é o de morcego que ainda me vale (e mal).
Segundo o médico, é só um pequeno incômodo passageiro, e tudo se resolverá com a cirurgia no outro olho, que farei até o final deste mês.
Enquanto isso, porém, além do estranhamento com minha nova figura, tenho penado para ler e escrever. Os dois olhos não se entendem, as letras e linhas começam a embaralhar, acabo me irritando e desisto, lacrimejante. Diante do computador é mesma coisa, e como sou obrigado a usá-lo o dia todo no trabalho, não me sobra ânimo nos breves momentos de folga, como agora.
Por isso, enquanto não escrevo, deixo aqui as razões de um grande e verdadeiro escritor para escrever.
Por que escrevo?
Julio Cortázar
“Eu gostava de algumas palavras, não gostava de outras, algumas tinham certo desenho, uma certa cor. Uma de minhas lembranças de quando estava doente (fui um menino muito doente, passava longas temporadas de cama com asma e pleurisia, coisas desse tipo) é a de me ver escrevendo palavras com o dedo, contra uma parede. Eu esticava o dedo e escrevia palavras, e via as palavras se formando no ar. Palavras que eram, muitas vezes, fetiches, palavras mágicas. Isso é algo que depois me perseguiu ao longo da vida. Havia certos nomes próprios ― e sei lá por quê ― que para mim tinham uma carga mágica. Naquela época havia uma atriz espanhola que se chamava Lola Membrives, muito famosa na Argentina. Bom, eu me vejo doente – aos sete anos provavelmente – escrevendo com o dedo no ar Lo-la-Mem-bri-ves, Lo-la-Mem-bri-ves. A palavra ficava desenhada no ar e eu me sentia profundamente identificado com ela. De Lola Membrives, a pessoa, eu não sabia muita coisa, nunca a tinha visto. Na realidade, eram meus pais que iam ver as peças onde ela trabalhava. E foi nesse mesmo momento que comecei a brincar com as palavras, a desvinculá-las cada vez mais de sua utilidade pragmática e comecei a descobrir os palíndromos, que depois apareceram nos meus livros… Desde muito pequeno, minha relação com as palavras, com a escrita, não se diferencia da minha relação com o mundo em geral. Eu não acho que nasci para aceitar as coisas tal como estão, tal como me são oferecidas”.