Posts from janeiro, 2012

Capitão ao mar

 

 

 

 

 

 

            Dizia Oscar Wilde que só as pessoas superficiais não julgam pelas aparências.

            Se assim for, a fotografia do intrépido capitão do Costa Concordia, Francesco Schettino, não deixa dúvida da sua vigarice: a bela estampa, o olhar tristonho, o cabelo longo e engomado, as costelas e o bigodinho afilado de galã do passado ou cantor de tango são o arquétipo do vigarista, digno de um personagem de Fellini.

            Posso vê-lo antes do acidente, a desfilar pelo navio com o uniforme impecável e seus galões dourados, jantando com os passageiros, dançando com senhoras e moçoilas encantadas.

            Quando a embarcação fez água e o naufrágio era iminente, tratou de se safar, “Mateus, primeiro os teus”.

            Segundo noticiado, a gravação da conversa que ele manteve com a Capitania de Livorno demonstraria que omitiu a colisão durante mais de uma hora, não tinha a menor ideia de quantas pessoas estavam sob risco e foi um dos primeiros a abandonar o navio. “Volte a bordo, capitão” teria lhe ordenado o comandante da Capitania, mas o bravíssimo Schettino se esquivou: “Não posso voltar, está escuro lá dentro”.

            É claro que como bom italiano o comandante da Capitania lhe falou com toda a delicadeza: “Vada a bordo, cazzo” já virou frase da moda que estampa camisetas na Itália, envergadas por aqueles que adoram manter as aparências.

            Seria cômico, se não fosse trágico.