Posts from abril, 2013

O binômio de Newton

 

          Annibal Augusto Gama

ANNBAL~1

 

 

 

 

 

 

 

Se há coisa em que acredito piamente é no binômio de Newton. Pouco importa que não o compreenda, já que não compreendo muitas outras coisas. O binômio de Newton fascinou a minha juventude, e ainda fascina a minha velhice. Também sempre admirei a Tábua de Logaritmos e os vasos comunicantes. E, como o cão de Pascal, uivo para a Lua, para a imensidão dos espaços vazios.

Um dia desses, apareceu-me no portão o homem de Piauí. E embora eu não acredite na existência do Piauí, que é uma ficção geográfica, fui atendê-lo quando ele apertou a campainha. Ele logo foi me dizendo: “Vim trazer-lhe a salvação”. Tão ardentemente desejava e desejo a salvação, que deixei entrar na minha sala o homem de Piauí. E ele logo me exibiu um jornal, explicando-me que bastava que o assinasse, que estaria salvo. Assinei o jornal, que agora recebo regularmente, e o homem de Piauí me garantiu: “O senhor está salvo”.

Quem diz, porém, que não estou salvo, e que não me salvarei, é o Padre Luís, que me tacha de herege impenitente.

— Padre, mas eu não fiz nada — eu lhe digo. 

-— Por isso mesmo, o senhor vai para o quinto dos infernos. 

Mas ao quinto dos infernos, prefiro o quinto de vinho tinto. 

Todavia, quero estar com minha mulher, com meus pais, e com alguns amigos. E, de qualquer maneira, “no céu, no céu, com minha mãe estarei…” 

Retifico-me: fiz muitas coisas, algumas más, e outras boas. Somadas as contas, tudo se equivale.

A verdade, num poço frio, morreu de pneumonia.

Capataz de uma fazenda que não tive, plantei arroz, feijão, e café. Criei gado no pasto.

Entre as minhas vacas, prefiro também a vaquinha branca, que me dá leite, achega-se à porteira e muge.

Todos os navios saíram dos portos.  Mas, pescador na lagoa, cantarolo:

 

                                               “Pescador da barca bela,

                                               Onde vais pescar com ela,

                                               Que é tão bela, pescador?”

 

Ela por elas, vou indo para Santiago de Compostela.

 

                                               “Ay flores do uerde pino,

                                               se sabedes nouas de meu amigo!

                                                           ay Deus, e hu é?

 

                                               Ay flores, ai flores do uerde ramo,

                                               se sabedes novas de meu amado!

                                                           ay Deus, e hu é?

 

                                               Se sabedes nouas de meu amigo,

                                               aquel que mentiu do que pôs comigo!

                                                           ay Deus, e hu é!