“Outros sonhos” (Chico Buarque)
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Desde que passou a colaborar com o “Estrela Binária”, o poeta Adalberto de Oliveira Souza tem enriquecido nosso pequeno cosmos com o brilho de suas criações.
Graças a ele, o “Estrela Binária” recebe hoje um astro que reluz no universo fulgurante da língua espanhola, Alfredo Fressia, poeta consagrado, de renome internacional, que nos honra com a sua presença que esperamos se torne permanente em nossa trajetória.
Foto de Rogelio Cuéllar
Alfredo Fressia, poeta uruguaio, continental que vive num entrelugar que vai do norte da América Latina, no caso o México, até à Patagônia. Segundo os críticos pertence à Generación del Silencio, aquela que chegou na idade de tomar a palavra no momento da ditadura. Seu primeiro livro saiu em 1973, dois meses antes do Golpe de Estado, tem publicado em toda a América e em vários países europeus e asiáticos.
ALFREDO Y YO
Alfredo Fressia
Duerme bajo el firmamento
la paciente flora del invierno.
Yo también duermo en mi cuarto de pobre.
Del lado ciego de la almohada
otro Alfredo tirita, es un ala
una sombra que prendí al alfiler
entre las hojas de herbario, un insomne
aprisionado en las nervaduras,
mi fantasma transparente.
¿Qué haré contigo, Alfredo?
Afuera pasará un dromedario
por el ojo de la aguja, un milagro,
la larga letanía de tus santos
para escapar del laberinto,
tocar el infinito herido por la flecha
en la constelación de Sagitario
y siempre la tortuga en tu poema
ganaba la carrera.
Sobrevivo a cada noche
como un potro celeste
nutrido con alfalfa y con estrellas
mientras tú, Alfredo, hueles a hierbas viejas
en el cajón atiborrado de secretos.
Yo te olvido al despertar, sigo mi busca
obstinada en el pajar del mundo
y te reencuentro en la almohada
pinchado al otro lado de mi sueño.
ALFREDO E EU
(tradução de Adalberto de Oliveira Souza)
Dorme sob o firmamento
a flora paciente do inverno.
Durmo também em meu quarto de pobre.
Do lado cego do travesseiro,
O outro Alfredo treme de frio, é uma asa
ou uma sombra que prendi com alfinetes
entre as folhas de um ervário, um insone
aprisionado nas nervuras,
meu fantasma transparente.
Que farei contigo, Alfredo?
Lá fora passará um dromedário
pelo orifício da agulha, um milagre,
a longa ladainha de teus santos
para escapar do labirinto,
tocar o infinito ferido pela flecha
na constelação do Sagitário
e sempre a tartaruga em teu poema
ganhava a corrida.
Sobrevivo a cada noite
como um potro celeste
nutrido com alfafa e com estrelas
enquanto, tu, Alfredo, tens o odor
de ervas secas
na gaveta abarrotada de segredos.
Esqueço de ti ao despertar, continuo minha busca
obstinada no palheiro do mundo
e te encontro no travesseiro
espetado no outro lado de meu sonho.
ALFREDO ET MOI
(tradução de d`Annie Salager)
Sous le firmament dort
la patiente flore de l’hiver.
Moi aussi je dors dans ma chambre de pauvre.
Du côté aveugle de l’oreiller
un autre Alfredo grelotte, c’est une aile
ou une ombre que j’ai épinglée
parmi les feuilles de l’herbier, un insomniaque
emprisonné dans les nervures,
mon fantôme transparent.
Que vais-je faire de toi, Alfredo ?
Dehors un dromadaire passera
par le trou de l’aiguille, un miracle,
la longue litanie de tes saints
pour échapper au labyrinthe,
toucher l’infini blessé par la flèche
dans la constellation du Sagittaire
et toujours la tortue dans ton poème
gagnait la course.
Je survis à chaque nuit
comme un poulain céleste
nourri de luzerne et d’étoiles
tandis que toi, Alfredo, tu as odeur d’herbes
vieilles dans le tiroir bourré de secrets.
Je t’oublie au réveil, je poursuis ma recherche
obstinée dans le pailler du monde
et te retrouve sur l’oreiller épinglé
de l’autre côté de mon sommeil.
“El Sueño”, Angel Juárez