Posts from setembro, 2013

Olhando da janela

 

               Annibal Augusto Gama

Annibal

 

 

 

 

 

 

Da janela, fico olhando o céu, de dez em dez minutos. Céu cinzento, nublado, céu de verão. Parece que mais tarde irá chover, sei não. Já não chove como antigamente, com trovoadas e raios, chuva aos potes estralando na calçada, até que, amainando, surgia o arco-íris. Então, os urubus vinham pousar na cumeeira dos telhados, e abriam as asas, para secar. 

Hoje, até os bem-te-vis estão mudos, são três horas da tarde. A preguiça se espicha no sofá, neste calorão dos diabos, que nem o ventilador ligado refresca.

Calor demais é indecência. Frio demais é chato. A vida é chata.

Acendo um cigarro, e logo mais acenderei outro.

Não quero estar com amigos, nem inimigos, afetos ou desafetos.

Ler jornal, neste dia, faz mal para a saúde. Assistir à televisão é aborrecer-se.

Torno a espiar o céu. Ele não muda, parece a Cena Muda, uma revista, também de muitos outroras.

Se o telefone tocar, dou um tiro nele.

Já me aconselharam um banho de cheiro, de ervas aromáticas. Mas eu não sou pernil em vinha d´alho.

Um cachorro late ao longe, outro cachorro late mais longe.

O que eu queria mesmo, aqui, no meu quintalejo, era um galo que cantasse.

Sento-me diante do tabuleiro de xadrez e jogo uma partida de xadrez com um fantasma. O fantasma ganha.

Espio de novo o céu.

Chegará a noite com a sua rima de açoite.

Na rua, não passa ninguém, graças a Deus.

A última vez em que li Virgílio, ele quadrupedava num charco.

Camões anda de carrinho de rolimã, na Mouraria.

O domingo é chato como carrapato.

 

urubus 2