“Canção em modo menor” (Tom Jobim / Vinicius de Moraes), com o Maestro Soberano
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=SN-1NSPdGXs&list=RD02SN-1NSPdGXs[/youtube]
“Canção em modo menor” (Tom Jobim / Vinicius de Moraes), com o Maestro Soberano
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Annibal Augusto Gama
Da janela, fico olhando o céu, de dez em dez minutos. Céu cinzento, nublado, céu de verão. Parece que mais tarde irá chover, sei não. Já não chove como antigamente, com trovoadas e raios, chuva aos potes estralando na calçada, até que, amainando, surgia o arco-íris. Então, os urubus vinham pousar na cumeeira dos telhados, e abriam as asas, para secar.
Hoje, até os bem-te-vis estão mudos, são três horas da tarde. A preguiça se espicha no sofá, neste calorão dos diabos, que nem o ventilador ligado refresca.
Calor demais é indecência. Frio demais é chato. A vida é chata.
Acendo um cigarro, e logo mais acenderei outro.
Não quero estar com amigos, nem inimigos, afetos ou desafetos.
Ler jornal, neste dia, faz mal para a saúde. Assistir à televisão é aborrecer-se.
Torno a espiar o céu. Ele não muda, parece a Cena Muda, uma revista, também de muitos outroras.
Se o telefone tocar, dou um tiro nele.
Já me aconselharam um banho de cheiro, de ervas aromáticas. Mas eu não sou pernil em vinha d´alho.
Um cachorro late ao longe, outro cachorro late mais longe.
O que eu queria mesmo, aqui, no meu quintalejo, era um galo que cantasse.
Sento-me diante do tabuleiro de xadrez e jogo uma partida de xadrez com um fantasma. O fantasma ganha.
Espio de novo o céu.
Chegará a noite com a sua rima de açoite.
Na rua, não passa ninguém, graças a Deus.
A última vez em que li Virgílio, ele quadrupedava num charco.
Camões anda de carrinho de rolimã, na Mouraria.
O domingo é chato como carrapato.