Selma Barcellos
Selminha levou seu sorriso para a Califórnia,
mas, com uma vizinha desavinda, a recíproca não foi verdadeira.
Melhor para nós, que temos ela e o sorriso bem-vindos de volta, à brasileira.
“– Mas que me seja permitido sonhar com uma outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou.” E o outro respondesse: “Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar que a vida é curta e a lua é bela.”
(Rubem Braga)
Vizinha,
Quem fala aqui é a senhora do 501. Sei que não está explícito no regulamento do prédio que ao menos um sorriso é obrigatório para quem entra ou sai do seu elevador (sim, é seu, estou de passagem), no entanto, se me permite, que desperdício de vida, vizinha… Reparou que sempre que nos encontramos, desejei-lhe um bom dia, segurei a porta quando a vi carregada de sacolas, quis até apertar o botão do seu andar e a senhora nem me deixou completar a pergunta, preferiu fazê-lo sozinha? Sequer uma palavra, um olhar de agradecimento… De todo modo, peço-lhe desculpas pela brincadeira de ontem – “Oh, there you are! The one that doesn’t smile! ” — e prometo silêncio.
Saudações.
Nota da Redação: Na esperança de que a criatura abra a janela e o sol lhe invada as manhãs e o coração, registrei em foto o que me levou a escrever este recadinho, ainda há pouco: o azul e o limoeiro siciliano que perfuma o jardim da casa do filho. Ah!, e uma canção de que gosto muito. Quem sabe?
“Canção da manhã feliz” (Haroldo Barbosa / Luiz Reis), com Nana Caymmi e Miltinho
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