Uma mulher em todas as outras

 

              Annibal Augusto Gama

Annibal

 

 

 

 

 

 

 

            Hesitei em ir-lhe dizer que tudo estava acabado entre nós, mas afinal fui. E ela me respondeu:

            — Nada acaba, tudo continua e se transforma.

            Ignoro se ela sabia disso através de Lavoisier.

            — Se tudo continua e se transforma, eu me transformei e, por isso…

            Ela me interrompeu:

            — Eu vou continuar, ainda que transformada, em você.

            Era justamente isso que me aborrecia, ou perturbava, nela: essa competição filosófica que nos acompanhava até na cama.

            — Margarida, por que você não é simplesmente Margarida? — perguntei-lhe.

            — Eu sou Margarida e todas as mulheres — ela rebateu.

            E tinha razão. Cinquenta anos depois, ela permanece, transformada ou não, em mim.

            Que raio de mulher persistente, que é a mesma e todas as outras!

 

margaridas

 

 

 

3 comentários

  1. Claudia Pereira
    16/09/13 at 16:14

     
     
    Gama, gostaria que soubesse que essa declaração de amor que seu pai escreveu é absolutamente encantadora. Ele consegue ser irreverente e bem humorado e absurdamente terno. Combinação rara!
     

  2. 16/09/13 at 21:13

    Margarida múltipla, espaçosa, insistente, atravessada na retina, na garganta, no coração…
     

  3. André
    16/09/13 at 21:19

    Gama, que declaração lindíssima de amor essa que seu pai fez.
    Abraçaço.

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