DE POEMAS E FLORES
Alguns nascem
com dedo verde
outros,
com espírito de porco.
Os poetas nascem
com flores
na ponta da língua.
Como as flores,
os poemas
são de vário feitio
e para todos os gostos.
Singelos e essenciais
como as margaridas,
barrocos e carnais
como as rosas.
Radiantes e vigorosos
como os girassóis,
sombrios e delicados
como as avencas.
Plebeus e pródigos
como as marias-sem-vergonha,
nobres e heráldicos
como as flores-de-lis.
Austeros e viris
como os antúrios,
efêmeros e indeléveis
como as flores do ipê.
Monumentais
como as vitórias-régias,
inebriantes
como as damas-da-noite.
Os poemas,
assim como as flores,
são milagres
que se renovam
diante daqueles
que têm olhos
de ver.
Por isso,
no túmulo dos poetas
há flores
sempre vivas,
ainda que invisíveis.