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Como ouço música cotidianamente, no carro, em casa, no computador enquanto trabalho, de vez em quando uma velha canção me assalta para me subtrair do dia a dia e me tranportar a outros dias.
Hoje aconteceu isso de novo, ao ouvir pelo rádio do automóvel a magnífica “Tropicália”, canção-manifesto de Caetano Veloso, na gravação originária, com maravilhoso arranjo de Júlio Medaglia.
Lembrei-me, então, de uma das muitas frases de efeito proferidas por Caetano Veloso ao definir o movimento simbolizado naquela canção: “A Tropicália foi o avesso da Bossa Nova”.
Todavia, tanto ele quanto Gilberto Gil, Tom Zé e Gal Gosta eram e são discípulos assumidos da Bossa Nova, do cantar minimalista e da inovadora batida de violão de João Gilberto, conterrâneo dos quatro.
Talvez se possa entender a frase a partir da consideração que o avesso pressupõe o direito, o verso o anverso, e um necessariamente não se contrapõe ao outro, antes o completa e o integra.
O movimento tropicalista, que no plano musical teria sua síntese no antológico LP “Tropicália ou Panis et Circenses”, lançado em 1968, obra coletiva de que participaram — além de Caetano, Gil, Tom Zé e Gal — Torquato Neto, Capinan, Os Mutantes, Nara Leão e até Vicente Celestino, por meio da recriação que Caetano fez de “Coração Materno”, ao som de disparos de canhão!
O maestro Rogério Duprat fez os extravagantes (e brilhantes) arranjos, e Oliver Perroy cuidou da célebre fotografia da capa, claramente inspirada em “Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band”. A forte influência dos Beatles revela-se ainda nas faixas ininterruptas, na simulação de um jantar ao vivo em “Panis et Circenses”, nos sons de rua em “Geléia Geral”, e em muitos outros aspectos da concepção do disco.
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Há também manifestas ressonâncias da iconoclasta “Semana de Arte Moderna” de 1922, do “Manifesto Antropofágico” de Oswald de Andrade, cuja peça “O Rei da Vela” fora remontada estrepitosamente na época pelo “Grupo Oficina”, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa
Logo depois a ditadura endureceu e vieram os tempos sombrios do AI-5, da caça às bruxas, das prisões e dos exílios. Mas isso é outra (embora a mesma) história.
Ao recordar de toda aquela efervescência cultural, não posso me esquecer do comentário feito pelo meu amigo, jornalista Roberto Rockmann, recém chegado de uma incursão pelos vinhedos da Borgonha, a propósito da nova canção de Chico Buarque: “Com o fim da ditadura militar, essa geração do Chico ficou sem norte, e a MPB também, bússola que faz falta há mais de duas décadas”.
Será mesmo que há males que vêm para o bem? E vice-versa?
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Pois é meu bom amigo Antonio Carlos Augusto, esses moços fizeram a nobre história da nossa música popular, eu adoro todos eles!
forte abraço do leitor,
C@urosa
Pra que Chico Buarque, se agora temos outros reis?
Na falta de música, tome futebol! Neymar na veia.
Parece que a música, como aprendemos a conhecê-la, ignorando esses lixos atuais, entrou, definitivamente, num processo de retrogradação irreversível.
No último (ou penúltimo?) filme do Matrix, escandalizou-me a “música” da época. Mas é, mais ou menos, o que tenho ouvido tocar nesses trenzinhos que saem por aí, desavergonhando as crianças, constrangendo ou irritando os adultos.